Além de ter sido o maior LAIC até hoje, foi o maior torneio de Pokémon realizado no Brasil até então. Com a pausa do VGC e a saída do Pokkén, o torneio contou apenas com as modalidades de TCG e GO (apenas categoria Master). Ainda assim, mais de mil jogadores estavam inscritos apenas para o Pokémon TCG, apesar de haver 976 jogadores presentes no evento. Nas categorias Junior e Senior, participaram 69 e 84 jogadores, respectivamente.
Realizado pela primeira vez no Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte em São Paulo - local vizinho de onde aconteceu a última BGS - o LAIC contou com diversas atrações, além do evento principal. Nossa equipe esteve presente no evento e eu competi no torneio de TCG.
Nossa equipe no painel de entrada do evento.
Para não competidores, o LAIC é a experiência mais próxima do Mundial de Pokémon que temos no Brasil, de forma relativamente acessível, dependendo da região em que você mora. O evento possui diversas atrações voltadas para todas as idades. É o local onde você pode encontrar amantes de Pokémon do Brasil todo e de diversas partes do mundo. Trocar cartas com vários colecionadores, trocar Pokémon e batalhar com outros jogadores seja no Pokémon GO ou nos jogos tradicionais para consoles. Conhecer criadores de conteúdo e jogadores renomados de Pokémon, visitar lojas com produtos exclusivos e competir em Side Events para conquistar os prêmios exclusivos da Prize Wall.
Os visitantes, chamados de Espectadores, compraram o seu acesso ao evento por um valor de R$10, recebendo um crachá exclusivo (cada categoria do evento recebia um crachá diferente, a soma de todos eles eram o Eevee e todas suas evoluções), uma lanyard e dois Boosters.
Os diferentes crachás do evento.
Visitantes podem assistir as partidas do evento principal ao vivo em um local reservado, participar de qualquer Side Event (são pagos), participar do First Step para aprender a jogar, visitar as lojas e praça de alimentação e possuem acesso a Kids Area, mesas para realizar trocas e jogos, além de acesso aos brindes distribuídos e atrações presentes no evento.
Para competidores, no quesito atrações, o LAIC não é muito diferente. Temos acesso a tudo que os espectadores também têm, exceto o fato de competir nos torneios principais, então temos acesso à área exclusiva para competidores e recebemos o kit de competidor.
A experiência de jogar o LAIC é ímpar. Na prática, não se difere tanto de jogar um grande Regional. De forma resumida, é um Regional com proporção muito maior. De forma mais detalhada, é um torneio de nível muito mais alto, muito mais difícil, com um ambiente bem diferente e a presença de muitos jogadores estrangeiros, alguns deles referências internacionais. É comum jogar com estrangeiros durante diversas rodadas, um momento interessante para fazer novas amizades e contatos, treinar outro idioma e conhecer novas estratégias de jogo.
Houve dois momentos interessantes fora da mesa de jogo neste Inter. Um deles foi ver produtos extremamente nostálgicos, como boosters e deck temáticos nos anos 90 e começo dos anos 2000. Outro foi presenciar um grupo de amigos jogando um Cubo com cartas antiguíssimas, antes mesmo da primeira ex Era. Bem resumidamente, é Cubo um formato de jogo em que o jogador cria o próprio formato vigente, e os decks são formados apenas com as cartas disponibilizadas pelo criador do Cubo.
Preparação e Previsão do Meta
A volta do LAIC depois de três anos me deixou bastante animado, mais do que os últimos regionais e a própria volta do jogo físico, após a pandemia.Diferentemente do que aconteceu no Regional de Porto Alegre, o LAIC teve um formato completamente novo. Origem Perdida não teve tempo de brilhar no Brasil, uma vez que o LAIC já contava com a estreia de Tempestade Prateada, válida exatamente a partir daquele final de semana.
A especulação de que o novo Lugia V-ASTRO era o deck a ser batido ou o deck a ser utilizado já estava presente há algum tempo na comunidade, desde os primeiros resultados de torneios japoneses com esse deck válido até os primeiros torneios online, na plataforma Limitless, com Tempestade Prateada válida.
Com cerca de dois meses antes do LAIC, eu já estava treinando versões de Lugia V-ASTRO utilizando proxies com membros do time. Quanto mais eu jogava com o deck, mais ansioso ficava. Estava muito claro de que o deck seria o mais forte no torneio, então a decisão a se tomar era tentar counterá-lo ou desembolsar valor financeiro alto com a nova coleção e treinar muita mirror. O lançamento do beta do Pokémon TCG Live, apesar de todos os bugs, ajudou muito nos treinos mais próximos ao torneio, uma vez que com apenas uma hora de jogo, já era possível montar o deck de Lugia V-ASTRO do zero, algo que no Pokémon TCG Online tomaria muito tempo ou muito dinheiro.
Que Lugia seria o deck mais forte do torneio já era sabido, o que não se sabia era a quantidade de pessoas que iria conseguir montar o deck em poucos dias e quais decks iriam levar para counterá-lo. Fora isso, era previsível que haveria muito Mew VMAX, deck que continuava fortíssimo, com o lançamento da carta Pedra Selada Florestal. A presença de muitos decks de Lost Box também era bastante esperada, uma vez que, nos torneios online, era um deck que estava conseguido sobressair meio a tanto deck de Lugia.
Minhas três opções para o torneio eram Lugia V-ASTRO, Mew VMAX e Mewtwo V-UNIÃO. Embora Mew tenha sido meu deck principal por muito tempo, eu não estava com vontade de encarar Drapion V o torneio todo e não me senti à vontade em usar Mewtwo em um torneio tão grande, após o Regional de Porto Alegre. Finalmente, optei por jogar de Lugia. No começo, não estava confiante, porém, nos últimos dias de treino, consegui dominar melhor o deck, ganhando algumas partidas difíceis. Naquele momento, o que me dava medo era apenas a mirror, que se mostrava quase que decidida por quem ganhava a moeda e escolhia começar a partida.
Mesmo com uma carga horária de treino bem pesada durante as últimas semanas antes do torneio, meu resultado não foi dos melhores. Até joguei com alguns jogadores estrangeiros, incluindo conhecidos da comunidade, e consegui jogar com um tempo bom, fugindo de qualquer empate ou de grandes missplays, porém tive muito azar com cartas decisivas nos prêmios em algumas partidas. Depois de começar o torneio bem e com chances de Day 2 até a 7ª rodada, terminei 5-4. Mas, acontece.
Meu deck utilizado no LAIC.
Deck utilizado no LAIC
Embora seja uma questão contestável, gosto de usar 1-offs nas minhas listas, talvez eu tenha exagerado um pouco nessa, rodando 16. Apesar disso, a lista estava rodando muito bem e eu estava com um bom domínio. Rodei apenas um estádio com tranquilidade e com três outs para retirar estádio (o próprio Estádio Desmoronado, Aspirador Perdido e Pumpkaboo). A última mudança que considerei na lista, até a véspera do torneio, foi a de colocar 1 cópia de Cuidado do Cheren ou 1 cópia de Ornitólogo. Eu já conhecia a tech do Zekrom e do Articuno que paralisam, mas duvidei que fosse enfrentar algum. Além do mais, iria precisar retirar 1 Archeops do deck para encaixar uma das cartas.Outras mudanças efetivas nessa lista naquele momento seria modificar a lista de Apoiadores, utilizando menos cópias da carta Serena e mais cópias de Marine, Pesquisa de Professores ou Ordem da Chefia. A modificação das energias, sem alterar o total de 16, poderia ser considerada, talvez aumentando o número de cópias da Energia de Captura, reduzindo então Energia Turbo Dupla, Energia Acelerada ou Energia Oculta.
Resultados
Durante o Day 1, uma variedade bem grande de decks se fazia presente, algo normal em um torneio tão grande. No decorrer das rodadas, algo se tornava claro: havia muitos decks de Lugia V-ASTRO nas mesas mais altas, cercado por alguns decks Lost Box, Mew VMAX e Regigigas. Alguns jogadores experientes estavam se destacando, quase que sozinhos, com decks como Palkia V-ASTRO ou alguma variação de controle. Decks de Giratina V-ASTRO e Arceus V-ASTRO se distanciavam das mesas altas a cada rodada passada.O Day 2 contou com o Top 102 jogadores, uma quantidade bastante grande de competidores. Estava sendo escrita a história do torneio. Utilizado por 54% dos jogadores, Lugia V-ASTRO era de longe o deck mais presente durante o segundo dia.
Naquele momento, três fatores estavam se destacando: a presença de listas completamente novas de Lugia V-ASTRO, focando em jogar uma partida mais tranquila contra Lost Box, utilizando Stoutland V e apostando em uma consistência maior para enfrentar a mirror e decks que utilizavam fatores de disrupt como Trilha Para o Cume, Marine e Templo de Sinnoh; listas não tradicionais de Lost Box, utilizando cartas como Raikou V e Kyogre de Celebrações; e o novo controle criado pelo jogador Sander Wojcik, que após um ótimo Day 1 vencendo diversos decks de Lugia, classificou-se em primeiro lugar para o Top 8 durante o Day 2.
Os norte-americanos tiveram uma predominância maior no Top 16 do torneio. Os brasileiros tiveram maior predominância no Top 32 e no Top 64. Destaque para o brasileiro Pedro Pertusi, que se classificou em 2º lugar para o Top 8, finalizando o torneio na 6ª posição, utilizando Lugia V-ASTRO.
No entanto, fazendo história, o grande campeão foi o norueguês Tord Reklev, utilizando uma build única de Lugia V-ASTRO. Tord conquistou o único Internacional que ainda não possuía no currículo, sendo assim, ele se tornou não só o jogador com mais títulos Intercontinentais, como o único a conquistar, ao menos uma vez, cada um dos quatro Intercontinentais. Tord se colocou em uma prateleira única, considerado por muitos o maior jogador da história, atrás apenas do lendário e já aposentado Jason Klacynski, vencedor de três Mundiais. Ao lado de Diego Cassiraga, Tord está a um título de conquistar todos os tipos de torneios existentes na categoria Master. Faltando apenas o Mundial para o Tord e apenas um Intercontinental para o Cassiraga. Lembrando que esse é um feito que o brasileiro Gustavo Wada já realizou, porém seu título de campeão mundial foi ainda na categoria Junior.
Os resultados finais do torneio indicavam Lugia como um Tier 0 absoluto, porém os discípulos do Sander e os Australianos sedentos por counters mudariam isso em breve, como veremos daqui a pouco.
Top 16 do LAIC. Você pode ver a lista completa e decks do Top 102 aqui.
Deck do Tord Reklev, campeão do LAIC.
Deck do Grant Manley, Top 4 do LAIC.
Deck do Sander Wojcik, Top 8 do LAIC.
Na categoria Junior, o Brasil dominou completamente o torneio. Além de dois integrantes no Top 4, que inclusive se enfrentaram, o grande campeão foi o brasileiro Luigi A., utilizando o deck de Lugia V-Astro, vencendo o americano Robert M., com o deck de Mew VMAX. Destaque também para o brasileiro Gabriel T., que terminou na 4ª posição.
Na categoria Senior, os brasileiros se saíram muito bem, dividindo posições altas da tabela com, principalmente, os norte-americanos. Destaques para os brasileiros Lucas J., que terminou na 7ª posição, e para o finalista Vinícius Fernandes, que utilizando uma lista de controle muito próxima ao que o Sander utilizou na categoria Master, terminou na segunda posição, derrotado na final pelo Australiano Yuichi M., utilizando Lost Box.
Caso você queira assistir as partidas transmitidas durante o LAIC, elas estão disponíveis no canal oficial da Pokémon no Youtube. Day 1, Day 2 e Finais.
O meta de Tier 0
Enquanto para alguns Lugia V-ASTRO parecia ser completamente imbatível, dominando absolutamente o metagame, para outros era apenas um deck a se counterar. Como tem sido frequente durante as últimas coleções, um deck se destaca como principal Tier 1 após o seu lançamento. Aconteceu isso recentemente com Mew VMAX, Arceus V-ASTRO e Palkia V-ASTRO, por exemplo. Porém, diferentemente do que aconteceu durante a época de maior predominância de Mew VMAX, os primeiros counters para Lugia não foram decks meta com techs focadas em atacar a fraqueza, foi uma mistura de decks de controle e diferentes decks rogue, com estratégias diferentes.Algo que muitos não se recordam é que em diversos momentos da história do Pokémon TCG vivemos metas com decks Tier 0, que, eventualmente, seriam apenas mais um bom deck a se utilizar, mas não imbatível. Quando decks assim surgem, a comunidade busca a todo momento criar novos counters, assim como counterar os próprios counters, algo que faz o Pokémon TCG ser um jogo que muda toda semana. Abaixo alguns exemplos semelhantes na história.
Top 16 do Regional de Memphis em Dezembro de 2017.
Top 8 do Regional de Melbourne em Junho de 2022.
A ascensão dos Counters
No final de semana seguinte do LAIC, três regionais aconteceram ao mesmo tempo (ou quase isso, pois foi um em cada canto do mundo).Primeiramente, o tradicional Regional de Brisbane na Austrália, que contou com apenas 182 jogadores na categoria Master, mostrava ao mundo algo completamente inesperado. Antes mesmo dos outros dois Regionais do final de semana começarem, em Brisbane o metagame se mostrava dividido em 2 Lugia vs Couters de Lugia e desenhava um Top 8 inesperado, com apenas dois jogadores utilizando Lugia V-ASTRO, 1 Mew VMAX e 5 counters diferentes de Lugia, sendo 2 deles variações da lista de controle criada pelo Sander para o LAIC.
Algo mais impressionante estava por vir, nenhum Lugia passou para o Top 4, que contou com 4 decks diferentes e uma final com 2 decks completamente novos. O grande campeão foi Tim Franklin com o deck de Inteleon/Frosmoth/Articuno, ganhando na final do Joel Suryadi, com um deck de Flaaffy Box. O conhecido jogador Brent Tonisson foi o mais bem colocado utilizando Lugia V-ASTRO, terminando na 5ª posição.
Top 8 Regional de Brisbane. Você pode conferir as listas aqui.
Algumas horas depois, iniciava-se o Regional de Stuttgart na Alemanha. Contando com 745 jogadores, a história desse torneio foi um pouco diferente. Apenas Liliana Imichová se classificou para o Top 8 utilizando Lugia V-ASTRO, terminando na 5ª posição. Ao contrário de Brisbane, não foram decks rogue e uma chuva de decks controle que dominaram os counters do torneio, mas sim novas variações de Palkia V-ASTRO utilizando Articuno e Vikavolt V. O Top 8 do torneio foi dominado por Mew VMAX, algo que estamos acostumados a ver. Quando se esquecem de counterar o Mew, ele volta com tudo. Destaque para Sander, que terminou na 6ª posição e trouxe mais um novo deck de controle, dessa vez atualizando completamente a sua lista de Mewtwo V-UNIÃO.
O campeão do torneio foi o polonês Mateusz Łaszkiewicz, utilizando Palkia V-ASTRO/Vikavolt V, vencendo o belga Brent Coosemans, que utilizou Mew VMAX.
Top 8 Regional de Stuttgart. Você pode conferir as listas aqui.
O centro das atenções do final de semana era o Regional de Toronto, com 1.061 competidores na categoria Master, mais até mesmo que o LAIC. O regional contou também com a presença do recém-campeão Tord Reklev.
Toronto teve um Top 8 mais equilibrado. Lugia V-Astro contou com 2 participantes no Top 8, assim como Lost Box. Os outros 4 decks foram diferentes, porém velhos conhecidos atualizados, com exceção do 8º lugar, Articuno/Inteleon.
Grant Manley repetiu o deck utilizado no LAIC, com pequenas alterações e figurou novamente nas primeiras posições. O canadense Christian LaBella se tornou vice-campeão trazendo de volta o deck de Arceus Duraludon, único deck de Arceus configurando as primeiras posições nos últimos torneios.
A grande campeã foi Piper Lepine, que refinou e atualizou a lista clássica de Mewtwo V-UNIÃO, conseguido uma vitória sólida, com um deck que ela estava desenhando há meses. Importante lembrar que a Piper já ganhou outro grande Regional este ano.
Top 8 Regional de Toronto. Você pode conferir as lista aqui.
Nos últimos dias, Lugia V-ASTRO tem continuado a dominar o meta nos torneios online e no Japão, adaptando-se aos counters recém-descobertos. Neste final de semana poderemos continuar acompanhando os capítulos dessa história, com a Stream do Regional de Arlington. Você acha que Lugia irá continuar dominando o formato até a rotação ou será engolido por outros decks?
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