Entrevista com o streamer Daniel Interfectoris

Printscreen de uma stream de Pokémon TCGO do Interfectoris

Na postagem desta semana, a Pokémon Blast News tem a honra de compartilhar uma entrevista com o streamer Daniel Vinícius, mais conhecido como Interfectoris!

Pernambucano, Daniel tem 32 anos e mora em Feira de Santana-BA. Além de produzir conteúdo para a internet, é biólogo e professor. Em 2021, fundou a Liga Inter, uma das principais equipes organizadoras de torneios de Pokémon Trading Card Game Online do Brasil. Foi um dos comentaristas da Copag Cup Latam Master II e foi indicado à categoria Melhor Streamer na Premiação Melhores de 2021 Copag.

A entrevista foi feita através de mensagens no WhatsApp, entre os dias 26 de maio e 03 de junho.

Entrevista

Matheus (PBN): Antes de qualquer coisa, poderia se apresentar brevemente para os leitores?

Daniel (Interfectoris): Olá, eu sou o Interfectoris, Inter, como muitos me chamam, ou Daniel, se preferir. Sou jogador e streamer de Pokémon TCG, além disso movimento a comunidade de jogadores organizando torneios online aos sábados.

Matheus (PBN): Qual foi o seu primeiro contato com a franquia Pokémon e, em especial, com o Pokémon TCG?

Daniel (Interfectoris): Eu adorava visitar bancas de revistas quando era criança. Sabendo desse interesse, minha mãe fez algumas assinaturas, adorava passar o tempo lendo revistas e por isso lembro que a primeira vez que vi uma referência a Pokémon foi em uma reportagem de uma dessas revistas infantis (Veja Kid+, se não me engano). Quando Pokémon estreou na TV aberta, eu já tinha ideia do que se tratava e tinha total interesse em seguir assistindo, desde então é a franquia que tenho maior apego.

Já o Pokémon TCG demorou um pouco mais a fazer parte da minha vida, sempre fui aficionado por jogos de cartas, colecionei todos os tazos e cartas de Pokémon da Elma Chips, mas o jogo de cartas oficial não existia no Brasil, e produto importado não chegava no interior da Bahia. Até tentei baixar uma ROM para emular o jogo de cartas do GBC, mas não tive muito sucesso (hoje faço questão de ter o cartucho original). 

Pokémon TCG GBC

As cartas piratas de Yu-Gi-Oh, Pokémon e Digimon que foram febre nos anos 2000 até agradavam, mas eu só tive real interesse em cartas de Pokémon quando já adulto, frequentando lojas de Magic. A Copag tinha pouco tempo no mercado localizando e distribuindo o produto. Comecei a colecionar e a jogar no início da saga Black & White.

Matheus (PBN): Podemos dizer, então, que você já tinha uma relação com o Magic antes do Pokémon TCG?

Daniel (Interfectoris): Sim, na realidade o primeiro jogo de cartas competitivo que joguei de forma oficial foi Yu-Gi-Oh, entre o período de 2007 a 2013. Cheguei até mesmo a aplicar como juiz pela Konami e apitei alguns torneios locais. Eu já conhecia o Magic em 2007, mas onde eu morava tinha apenas amigos jogadores de Yu-Gi-Oh. Somente entre 2012 e 2013 que comecei a jogar Magic e Pokémon TCG, quando mudei de cidade e conheci uma comunidade de jogadores mais diversa.

Matheus (PBN): Ao se aproximar do Pokémon, você deixou de lado os outros card games ou manteve um elo forte com eles?

Daniel (Interfectoris): Bom, abandonei completamente o Yu-Gi-Oh, já que eu não estava satisfeito com a distribuição das cartas no Brasil e com o cenário local. Então segui jogando principalmente o Magic. 

Já o Pokémon foi complicado. Joguei bastante a liga local, porém, após a primeira rotação do bloco Black & White, houve uma desistência massiva dos jogadores e com isso o lojista também deixou de apoiar/investir no jogo. Eu continuei colecionando e jogando, principalmente pelo Pokémon TCG Online.

Matheus (PBN): Como alguém que vivenciou diferentes jogos e comunidades, o que mais você vê de particular no Pokémon? Seja para o lado ruim ou para o lado bom.

Daniel (Interfectoris): Pokémon é uma franquia que está atrelada a minha infância e a infância de milhares de pessoas. Até hoje conquista novos fãs, seja com o anime, jogos de videogames e, claro, com o card game. 

No caso do TCG, a comunidade é muito unida e ativa, existem grupos de colecionadores, de jogadores de torneios online, de ligas em lojas físicas, temos diversidade em produtores de conteúdo e isso tudo torna a experiência de jogar Pokémon ainda melhor e mais atrativa. Como qualquer outro jogo, existem problemas e dificuldades que vem sendo driblados pelos jogadores, isso faz parte, mas, no geral, são mais pontos positivos do que negativos.

Pokémon GO x Pokémon TCG

Matheus (PBN): Quais seriam esses problemas e dificuldades?

Daniel (Interfectoris): Existem pontos a melhorar na estrutura/regras do jogo. Infelizmente mudanças a esse nível são muito difíceis de acontecer já que o jogo tem se estabelecido da forma que está, sem um feedback direto dos jogadores e dos desenvolvedores. Mas os problemas que me incomodam acabam sendo mais relacionados a minha realidade local e à produção/distribuição dos produtos no Brasil. 

É difícil estabelecer uma comunidade de jogadores do zero, é preciso apoio/suporte para que isso aconteça. A pandemia está sendo superada e as ligas locais estão retornando, assim, espero que a Copag consiga dar esse suporte a lojistas e que novos e antigos jogadores tenham interesse no jogo. 

Apesar da pandemia ser uma situação limitante, a falta de produtos em lojas (por muita procura ou por cotas que limitam a quantidade de produtos para cada lojista) é, ao meu ver, um problema para colecionadores e jogadores adquirirem os produtos. E, quando você mora no Nordeste e depende de frete, isso complica ainda mais.

Matheus (PBN): É possível dizer que faz parte do papel dos influenciadores, incluindo você, cobrar por melhorias e, indo mais longe, manter a comunidade viva em momentos de frustração dos fãs?

Daniel (Interfectoris): Acho que as pessoas que acompanham criadores de conteúdo buscam por entretenimento, mas também por compreensão de situações e problemas relativos ao jogo que estejam vivendo, então é sim papel dos influenciadores/criadores expressar o descontentamento com algo, cobrar por melhorias, soluções de problemas. 

Atualmente temos uma comunidade ativa, que sempre se expressa diante destas situações. Juntos somos melhores e já conquistamos muito. Quem viveu a época dos atrasos nos lançamentos e cobrou por melhorias nesse sentido sabe do que estou falando.

Canal da Twitch

Matheus (PBN): Já que entramos no assunto, quando e como você começou a produzir conteúdo de Pokémon para a internet?

Daniel (Interfectoris): Comecei a criar conteúdo para a internet em 2008, com um blog que acabou ficando de lado com o tempo. Só em 2020 tive a iniciativa de voltar a produzir conteúdo para internet e, neste caso, voltado para um dos meus hobbies favoritos, jogar Pokémon TCG. 

A pandemia foi um gatilho para a formação de um pequeno grupo de jogadores de Pokémon TCG Online na Bahia, assim tínhamos um espaço para conversar e organizar torneios de forma segura no período da quarentena. Os torneios online foram crescendo, a comunidade em torno do canal da Twitch também. Assim, surgiram muitas parcerias e amizades que só reforçam esse interesse em produzir conteúdo voltado para o Pokémon TCG.

Matheus (PBN): De onde veio o apelido Inter/Interfectoris?

Daniel (Interfectoris): O último apelido que eu recebi dos amigos que jogavam MMORPG comigo foi "Paçoca" e o motivo é que Interfectoris era complicado demais para eles falarem enquanto montavam uma estratégia na guerra de guildas. 

Esse nickname complicado tem origem no latim e significa "assassino". Apesar de eu não ser perigoso sequer para uma formiga, na época em que pensei no nick eu jogava muito Ragnarok com a classe Assassin/Mercenário e adorava os jogos da franquia Assassin's Creed. Aí não teve jeito, era um nick que me representava e acabei usando em tudo, inclusive no perfil da Twitch, que só viraria canal muitos anos depois.

Matheus (PBN): O Scyther como mascote foi escolhido apenas por afinidade com o Pokémon ou há algum significado especial?

Daniel (Interfectoris): Estava procurando algum Pokémon que tivesse um elemento para ser acrescentado nas artes do canal. Algo que funcionasse como a letra "i" de Interfectoris. Depois de muito pensar, achei que a asa/lâmina do Scyther funcionaria bem nas artes, o que seria ótimo, já que o Scyther é meu Pokémon inseto favorito da primeira geração.

Daniel Interfectoris Logo

Pokémon na escola e na Biologia

Matheus (PBN): Falando em inseto, você acha que seus conhecimentos em Biologia te fazem ver os Pokémon (ou pelo menos alguns deles) de forma diferente?

Daniel (Interfectoris): Ah, com certeza. Eu costumo ver os Pokémon como seres vivos reais. Fico pensando em qual ambiente vivem, o que comem, quais suas características e, claro, qual referência eles carregam dos seres vivos que habitam nosso planeta. 

A Pokémon Company é muito criativa e quase sempre acerta nas referências/homenagens, isso inclusive me faz gostar de Pokémon pouco atrativos, como Bruxish (baseada em um peixe símbolo do Havaí), mas por vezes também saem coisas bizarras, como um peixe que evolui para um polvo, o que é biologicamente errado, mas a gente "passa pano" porque a referência nesse caso é outra (arma/canhão) e está tudo bem, é legal também ter essa quebra da realidade e ter até Pokémon objetos.

Matheus (PBN): E como professor, em sala de aula, você chegou a usar os Pokémon ou o Pokémon TCG? Talvez, até, para criar uma maior aproximação com os alunos.

Daniel (Interfectoris): Sim, costumo usar Pokémon na sala de aula sempre que acho a relação adequada. Recentemente estava lecionando sobre "classificação biológica dos seres vivos", onde é preciso mostrar a importância das coleções de seres vivos para conservação e conhecimento da vida.

Nesta oportunidade, levei algumas cartas de Pokémon TCG e pedi para que os alunos criassem um padrão e organizassem as cartas de alguma forma. Aproveitei o momento para mostrar minha coleção de cartas e brevemente contar como o jogo funciona. Eles organizaram as cartas utilizando o que percebiam, cores, tipos, evoluções... Logo em seguida, aprenderam que na Biologia vale o mesmo, usamos características morfológicas, fisiológicas, genéticas para organizar os seres vivos.

Matheus (PBN): Imagino que vários deles se interessaram pelo jogo, pelo menos superficialmente. Algum novo jogador ou colecionador foi formado no processo?

Daniel (Interfectoris): Em anos anteriores, sim, vários ex-alunos atualmente jogam Magic e/ou Pokémon TCG por minha influência. Já tive oportunidade de ministrar oficinas de board e card games dentro da escola. Essas ações são bem positivas e produtivas para mostrar as crianças e jovens que existem outros jogos além dos digitais e que eles garantem diversão da mesma forma, além de melhorar nas habilidades de relacionamento interpessoal e raciocínio lógico.

Matheus (PBN): Pelo lado contrário, já houve conflitos com pais/responsáveis que desaprovaram o uso dos jogos nas escolas?

Daniel (Interfectoris): Esse conflito acontece antes mesmo de chegar ao conhecimento dos pais/responsáveis. Já lecionei em vários ambientes, de instituições particulares a públicas, e em todas elas existe uma desconfiança/desconhecimento sobre os jogos pela própria equipe pedagógica. 

Fui barrado de apresentar os card games na escola particular que trabalhava pelo menos duas vezes. Na pública, por outro lado, a própria escola promoveu em alguns momentos específicos oficinas de diversos segmentos, inclusive jogos, e isso teve repercussão. Alguns pais já me procuraram para saber do que se tratava, no geral eles mostravam preocupação com a temática dos jogos (principalmente sobre o Magic) e se estavam relacionados a jogos de azar. 

Pouca ou nenhuma reclamação foi recebida nos meus anos como professor. Geralmente ouvia comentários como "esses meninos só vivem jogando essas cartas", "não fazem outra coisa agora, é só esse jogo de cartas". Teve apenas um aluno que devolveu as cartas que havia recebido na oficina por pedido dos pais. 

Então, a inserção de jogos "físicos", sejam de cartas ou de tabuleiro,  ainda precisa vencer as barreiras do preconceito e desconhecimento. Muitos falam que "é coisa de criança", ou simplesmente não conhecem e não mostram interesse ou desejo de estimular os jogos como prática/hobby na vida das crianças e adolescentes.

Matheus (PBN): Torcemos que, com essa entrevista, esse papel positivo dos card games seja reconhecido por mais pessoas.

Competitivo e eventos

Matheus (PBN): Agora, entrando na parte final, gostaríamos de falar um pouco sobre a coleção lançada nos últimos dias, Estrelas Radiantes. Já teve a oportunidade de testar algum dos baralhos novos/atualizados?

Daniel (Interfectoris): Sim, joguei com 3 baralhos da nova coleção, Urshifu Samurott, Regis e Eternatus Samurott. Os V-ASTRO são realmente bastante versáteis e dão suporte a decks que já existiam.

Dos três citados, o Urshifu Golpe Fluido com o novo Samurott V-ASTRO se saiu melhor, encontrou no inicial de água de Hisui o finalizador que precisava (distribuindo 4 marcadores em qualquer Pokémon) e apoio de um tipo importante no metagame, já que o tipo Sombrio ataca a Fraqueza de um dos principais decks do formato, o Mew VMAX.

Samurott V-ASTRO - ASR 102

Já o Eternatus não conseguiu fazer tanto proveito do Samurott e segue tendo problemas com cartas no formato, como "Trilha para o Cume" e Pokémon que se aproveitam da quantidade de Pokémon no Banco, como o novíssimo Palkia V-ASTRO. 

O deck dos Regis também é uma grata surpresa dessa coleção, já que é um baralho de 1 prêmio bastante sinérgico e divertido de jogar. Com o retorno de torneios presenciais, será uma opção boa e barata para se montar no físico, assim como outros decks de entrada.

Regigikas - ASR 130

Matheus (PBN): Quanto aos torneios presenciais, você esteve nos Regionais de São Paulo e Joinville? Se sim, como foi?

Daniel (Interfectoris): Estive apenas no Regional de São Paulo e foi uma experiência incrível, principalmente por ter tido a oportunidade de encontrar pessoalmente com tanta gente que acompanha minhas lives e/ou jogam os torneios que organizo.

Foi oportunidade também de jogar um torneio de alto nível com jogadores profissionais e pôr em prática todo o treinamento realizado durante a pandemia através do Pokémon TCG Online. Infelizmente não pude aproveitar muito dos torneios paralelos, mas a experiência no geral foi excelente, e o melhor de tudo foi acompanhar um grande amigo na final da Master. Foi um experiência e emoção absurda. 

O Regional de Joinville repetiu a fórmula do torneio de São Paulo com grandes partidas e eventos paralelos, mas esse pude acompanhar apenas de casa. Aproveito para reforçar a importância das transmissões desses eventos.

Matheus (PBN): Você, inclusive, foi um dos comentaristas da Copag Latam Cup Master II, ainda durante a pandemia. Além disso, esteve entre os indicados a melhor streamer do ano, no prêmio Melhores do Ano Copag 2021. Como se sente por esse reconhecimento da comunidade e, também, da empresa responsável pelo PTCG no Brasil?

Daniel (Interfectoris): Sim, tive a oportunidade de narrar a Copag Cup ao lado (ainda que virtualmente) do Lucas TiuSam, um dos maiores criadores de conteúdo Pokémon do Brasil. Foi uma honra ter participado como caster, onde fiz uma das coisas que mais gosto de fazer quando tenho oportunidade, que é comentar partidas de Pokémon. Narrar partidas em um torneio de grande dimensão como a Copag Latam Cup Master II fez a experiência ser ainda mais especial. 

Interfectoris e TiuSam narrando a Copag Cup Latam Master II

A indicação a Melhor Streamer do ano veio em um bom momento. Eu estava em processo de transição na vida pessoal/profissional, mudando de cidade, de emprego, isso me deu ânimo para continuar a fazer as transmissões e continuar organizando eventos para a comunidade sem perder o ritmo. 

Acredito que toda as interações com o público na Twitch e nas redes sociais me levaram a este importante reconhecimento. Agradeci na época e continuo agradecendo a todo apoio que a comunidade de jogadores e criadores de conteúdo Pokémon me dão, e, claro, agradeço ao suporte e reconhecimento da Copag Pokémon por todas as oportunidade nos últimos anos.

Matheus (PBN): Temos certeza de que as conquistas e oportunidades continuarão surgindo. 

As perguntas acabaram, mas sinta-se livre para mandar qualquer mensagem para os leitores. A PBN agradece a participação e, pessoalmente, agradeço pela conversa produtiva!

Daniel (Interfectoris): Agradeço a oportunidade de conversar com vocês, me coloco a disposição da PBN para mais interações. Este espaço é muito importante para difundir o Pokémon TCG e a criação de conteúdo no geral. Espero que tenham conhecido um pouco mais sobre mim e convido a todos para assistirem as lives, que acontecem de quinta a sábado à noite na Twitch. E para aqueles que gostam de competição, todo sábado temos torneios na plataforma Limitless (Liga Inter). Abraços e belas jogadas! 

Redes sociais do entrevistado

Para mais conteúdo de Pokémon, fique ligado na Pokémon Blast News, em especial em nossa página dedicada ao Trading Card Game!

Matheus Gomes

Estudante de desenvolvimento web e programação, Matheus dedica parte de seu tempo livre ao Pokémon Trading Card Game, principalmente como organizador de torneios online. Na PBN, busca familiarizar os leitores ao incrível mundo do TCG competitivo.

Sinta-se à vontade para comentar!

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