Pokémon, O Filme: Detetive Pikachu | Crítica


Demorou, mas a Pokémon Company ouviu nossos pedidos. Para todos aqueles que sempre sonharam em ver Pokémon e humanos vivendo lado a lado, Pokémon, O Filme: Detetive Pikachu chegou para demonstrar que as criaturas também podem estar dentro das telonas de forma realista. Embora Pokémon nos cinemas não seja bem uma grande novidade, observar as criaturas em suas formas live-action com certeza são a realização de um sonho de uma geração que cresceu assistindo e jogando os produtos da franquia.

Na matéria de hoje, iremos responder a uma pergunta que já vem sendo feita há pelo menos um ano, desde que o filme foi anunciado: Pokémon, O Filme: Detetive Pikachu é bom? Confira agora a crítica e opinião da PBN.

Apenas lembrem-se de que tudo escrito aqui não é uma análise de crítico profissional de cinema, mas sim uma opinião sincera sobre um fã da franquia.


O histórico de filmes adaptados de jogos eletrônicos não é bom. Poucos foram os longas que conseguiram realmente resgatar o mesmo feeling de seu material original, e a maioria deles pode ser considerado, no máximo, razoável. Por isso, a Warner tinha em mãos uma responsabilidade enorme ao tratar de uma das maiores franquias do mundo, que jamais havia sido adaptada de forma realista para o cinema. Em um terreno um tanto quando perigoso, o resultado que o estúdio traz às telonas tenta satisfazer tanto o público mais jovem quanto os fãs mais antigos da franquia.

O filme se inicia já consolidando qual será o tema central: um acidente de carro próximo à um laboratório de pesquisas com Mewtwo. A partir disso, todos os momentos posteriores têm como foco a tentativa do protagonista e de seu Pikachu de descobrirem o caso em questão. Logo nas primeiras cenas, o filme já mostra grande parte da personalidade de seu protagonista, conseguindo avançar na história sem precisar de tempo demais para inicia-la. Vale dizer, no entanto, que a história em si apresenta certo desapego ao material dos jogos originais, dando mais foco à história de "detetive" dos protagonistas - contada no jogo Detetive Pikachu, lançado para Nintendo 3DS em 2016. Sendo assim, a adaptação que o filme traz é deste jogo lançado em 2016, e não dos jogos da franquia principal.


E justamente por ter essa apresentação logo em seu início, Pokémon: Detetive Pikachu não demora para entrar em sua trama principal: Tim, um garoto que evita ter contato com os Pokémon, recebe um misterioso telefonema dizendo que seu pai, um detetive muito famoso que mora em Ryme City, acaba de falecer. Com isso, o garoto viaja para onde seu pai mora a fim de esclarecer a situação com a polícia e buscar algumas coisas em seu apartamento. No processo, ele encontra Pikachu, antigo parceiro de seu pai, que acaba lhe dizendo que o famoso detetive ainda está vivo, e ambos partem para descobrir o mistério.

Vale dizer que, além do grande foco no tema central, Detetive Pikachu aborda também alguns subtextos menores em seu roteiro. A questão da ausência da figura paterna para Tim, que há tanto tempo não encontrava seu pai, é uma das principais, e acaba causando um drama a mais no filme - o que é bem-vindo. Além disso, também há um leve romance entre Tim e Lucy, uma jornalista estagiária que acaba entrando na história em meio ao processo. Esses subtextos não conseguem ser tão relevantes e emocionais, mas certamente acrescentam algumas camadas na trama como um todo.


Dito isso, é hora de falar sobre os Pokémon realistas presentes no filme. Como já dito anteriormente, a Warner tinha em mãos uma enorme responsabilidade, já que, pela primeira vez, colocaria os Pokémon na tela de forma que estes parecessem de verdade. E, sinceramente, o resultado não poderia ser mais satisfatório. É impressionante a maneira fluida, eficaz e natural com que as criaturas foram colocadas no longa - não há nenhum Pokémon que pareça estranho ou artificial demais. Até mesmo a escolha da textura da pele ou os pêlos de vários deles foram escolhidos de maneira impressionante, de forma que realmente parece que eles vivem no mesmo mundo dos humanos. O ponto de equilíbrio encontrado no visual faz com que as crianças, que acompanham a franquia a menos tempo, reconheçam todos os Pokémon, ao mesmo tempo que resgata um tom nostálgico para aquele que está junto da franquia desde a 1ª Geração.


Outro ponto que ajuda no visual dos Pokémon é a própria Ryme City, cidade onde o filme se passa. Pelo fato da cidade ser um local em que humanos e Pokémon vivem em conjunto, o longa possui a desculpa perfeita para colocar as criaturas a todo momento na tela, acertando, de maneira incrível, um ponto exato para que isso não se torne saturado. O espectador nota constantemente Pokémon diferentes aparecendo, inclusive auxiliando os humanos a fazer tarefas comuns: alguns Squirtle ajudando os bombeiros a apagar incêndios; alguns Growlithe ajudando os policiais a combater o crime; etc. Até mesmo as habilidades de transformação de Ditto possuem relevância. Tudo isso, posto de uma forma orgânica na história, somado à exemplar computação gráfica dos Pokémon, demonstra que a Warner sabia exatamente o que estava fazendo com as criaturas.

Como último tópico relacionado aos Pokémon, é preciso falar daquele que dá nome ao filme: Pikachu. Embora no início pareça uma baita descaracterização de personagem, já que um Pikachu falante com o mesmo tom sarcástico de Deadpool jamais havia sido imaginado antes, o tempo faz com que o telespectador se ajuste à essa nova visão. Ryan Reynolds dubla o personagem de uma maneira tão sarcástica e engraçada que, de certa forma, Pokémon: Detetive Pikachu pode ser considerado até mesmo um filme exclusivamente de comédia. Mesmo esse não sendo o foco principal, é impossível não rir com a voz do ator em um pequeno Pikachu. A computação gráfica da criatura, da mesma forma que todas as outras, é exemplar.


Sobre as cenas de ação, também pode-se considerar que elas satisfazem. Em diversos pontos da história, os protagonistas se deparam em situações em que eles precisam "lutar" para avançar, e um dos desafios do longa era adaptar os Pokémon realistas para essas cenas. Nesse caso, a ação é bem feita, já que em nenhum momento fica bagunçada demais, e, é claro, a fluidez dos Pokémon continua a mesma. Na cena em que os Greninja aparecem, já mostrada nos trailers, é impressionante a interação dos personagens humanos, Pokémon, e explosões que ocorrem na tela - elas nunca ficam demasiadamente caóticas. Na "batalha final", em que espera-se que haja um caos maior, o filme impressiona ao mostrar uma ação mais contida e focada nos dois protagonistas.

E se o filme possui algumas cenas de ação, é de se esperar que ele possua um vilão. Como já havia sido mostrado e muito teorizado, Mewtwo dá as caras em sua forma live-action para representar a (não única) figura vilanesca de Pokémon: Detetive Pikachu. Em primeiro lugar, é preciso dizer que a textura da pele escolhida para o Pokémon faz com que ele pareça, talvez juntamente de Pikachu, o Pokémon mais realista de todo o filme. E em segundo lugar, não há como não dizer que sua voz na dublagem brasileira (novamente trazida pelo brilhante Guilherme Briggs, assim como no primeiro longa de 1998) arrepia os fãs mais antigos desde sua primeira cena. O fato de Mewtwo ser tão realista, somado ao fato de que sua voz é a mesma que o fez tão famoso, traz a receita perfeita para que o personagem seja excelente no filme.


O filme ainda consegue, sabendo que possui um vasto passado da franquia a ser explorado, inserir muitas referências e segredos ao longo de sua história. Detetive Pikachu é um daqueles filmes que precisam ser vistos três ou até mesmo quatro vezes para se notar todos os easter-eggs que ele esconde, já que alguns deles apenas fãs muito assíduos da franquia irão observar. Além disso, o longa surpreende ao dar importância para alguns Pokémon inesperados, e, no final, há uma série de plot-twists sequenciais que fazem com que o espectador não saiba mais ao certo em quem confiar - o que é ótimo para prender a atenção de quem está assistindo.

Dito tudo isso, Pokémon: Detetive Pikachu tem tudo para ser considerado a melhor adaptação de jogos da história do cinema. Até a data em que esta crítica está sendo escrita, o filme está com uma aceitação de 86% por parte do público no Rotten Tomatoes, o que pode ser considerada uma nota bastante satisfatória. Além disso, nos veículos de mídia mais tradicionais, o filme vem arrecadando muitos elogios, o que pode incentivar ainda mais o desejo da Warner de criar um Universo Cinematográfico de Pokémon - assim como a Marvel faz com seus super-heróis. Se isso vai mesmo ocorrer ou não, resta aguardar qual será o resultado de bilheteria que Detetive Pikachu conseguirá arrecadar. O que é possível de se dizer por enquanto, sem nenhuma dúvida, é que o filme deixa algumas pontas soltas para uma possível continuação.


Mesmo que tenha muito mais pontos positivos do que negativos, Detetive Pikachu não é isento de falhas. Embora seus protagonistas sejam muito bons, a história em que eles se inserem é um tanto quanto simples, e não se difere tanto de filmes de detetive comuns. Além disso, ainda que exista alguns pontos do filme que são bem imprevisíveis, há outros que se tornam bastante previsíveis ao longo da trama. Por fim, o filme não abraça tanto a franquia em todos os pontos de vista, já que altera alguns tópicos essenciais que fizeram Pokémon se tornar tão famoso (como as Batalhas, que aqui são proibidas e clandestinas, por exemplo). Mesmo assim, não é algo que atrapalhe o longa, que se sustenta bem mesmo com essas mudanças pontuais.

Conclusão

Pokémon, O Filme: Detetive Pikachu é um daqueles longas que foram feitos para tentar agradar todos os tipos de público: as crianças, os jovens, e os adultos que cresceram amando esta franquia. E, de forma impressionante, o filme consegue alcançar um certo patamar de qualidade inesperada quando se trata de adaptações de jogos eletrônicos. Como já dito, Detetive Pikachu é possivelmente a melhor adaptação de um jogo para os cinemas já feita até hoje - e grande parte disso se deve a um pequeno (mas correto) desapego ao material original.

Algo que deve ser muito salientado aqui, mais uma vez, é o visual exemplar que as criaturas receberam. Em uma época em que há tanta tecnologia em computação gráfica para o cinema, e considerando que a distribuidora do filme é uma gigante do mercado cinematográfico (Warner Bros.), certamente um ponto em que Detetive Pikachu não podia pecar era na qualidade e realismo dos Pokémon. E este deve ser, provavelmente, o tópico em que o filme mais acerta.

Por fim, respondendo objetivamente a pergunta do início da matéria: sim, Detetive Pikachu é um bom filme. Ele acerta o tom de realismo desejado, soma isso a uma história simples, mas eficaz, e é capaz de colocar referências que vão fazer os fãs mais antigos quererem rever o longa inúmeras vezes. Para todos aqueles que passaram sua infância sonhando sobre como seria se os Pokémon existissem de verdade, Pokémon, O Filme: Detetive Pikachu certamente dá uma ideia excelente de como isso aconteceria. E se o filme consegue despertar sua criança interior, certamente vale a ida ao cinema.

  • Nota: 9,0 /10,0

Lucas Avancini

Fã desde muito pequeno, cresceu assistindo, jogando e colecionando tudo relacionado à franquia. Acredita que fazer parte de um dos maiores portais brasileiros de Pokémon no Brasil é um antigo sonho se tornando realidade, já que sempre quis desenvolver algo para contribuir com a comunidade no país. Formado em Administração pela Universidade de São Paulo e atualmente atuando no ramo de tecnologia.

Postagem Anterior Próxima Postagem

نموذج الاتصال