Pokémon Black & White oito anos depois: Unova revisitada


Nas últimas semanas eu estava com aquele gostinho por uma jornada Pokémon, mas Sword & Shield só vem em novembro e Pokémon Masters estava sem um lançamento previsto (ainda não havia a opção de VPN para apressadinhos). Então eu decidi tirar a poeira do meu Nintendo DS Lite e revisitar alguns dos meus jogos favoritos da franquia.

Depois de uma longa jornada por Sinnoh com Pokémon Platinum e por Johto/Kanto com Pokémon SoulSilver, eu decidi estender mais ainda a minha aventura e pular para a quinta geração. Pokémon White foi a minha escolha, pois Zekrom é o meu lendário favorito dessa região.

De cara as evoluções da franquia saltam aos olhos. Os novos sprites totalmente animados e as batalhas com uma câmera mais dinâmica são espetaculares. Nos sons também vemos uma melhora significativa na qualidade. Claro que a excelente trilha sonora da quinta geração ajuda bastante, mas os efeitos sonoros também conseguem tirar melhor proveito do hardware do Nintendo DS.

Mas o que realmente se destaca é a narrativa (alerta de spoiler). A Equipe Plasma deseja libertar todos os Pokémon do mundo de sua servidão aos humanos e para isso seu rei, N, irá despertar o dragão lendário e provar que é o herói que veio trazer um novo mundo. Com o tempo descobrimos que a coisa não é tão bacana assim e na verdade Ghetsis deseja manipular as massas para ser o único capaz de usar o poder dos Pokémon e, assim, subjugar o resto da humanidade.

N foi criado desde pequeno com a companhia somente de Pokémon que foram maltratados pelos humanos. Como resultado ele se tornou um jovem muito sensível aos sentimentos dos monstrinhos, porém também muito inocente e não percebeu que o plano de Ghetsis era distorcer sua percepção da realidade para que ele se tornasse o herói da lenda e ajudasse cegamente na dominação global da Equipe Plasma.
O jovem N com seus amigos Pokémon

Por trás desta trama de manipulação, tanto das massas como de um herói enganado, se esconde a verdadeira proposta do jogo. Proposta esta que na verdade já fomos apresentados desde o início, ainda na parte em que escolhemos sexo e nome. Naquele momento a Professora Juniper diz que iremos conhecer diversas pessoas, com variados pontos de vista, e que espera que todos esses encontros com diferentes Pokémon e indivíduos ajude em nosso crescimento pessoal.

No decorrer do game podemos ver claramente essa mensagem que os desenvolvedores tentaram passar. Black e White não foram títulos escolhidos à toa. Toda a história gira em torno do conflito entre a verdade e os ideais. Como saber se aquilo que eu acredito é verdadeiro? Como aceitar o verdadeiro se for contra meus ideais?

Se você prestar bastante atenção nos diálogos, principalmente os que envolvem o conflito interno de N, verá que o enredo tenta nos ensinar que nada é tão preto no branco como parece. Que cada situação ou discussão possui diversos tons de cinza antes que algo possa ser considerado absoluto. E que acima de tudo devemos estar sempre dispostos a ouvir o lado do outro e abrir nossas mentes para conhecer um ponto de vista diferente sem preconceitos.
Se até esses dois puderam se entender, por que não nós?

É uma lição extremamente importante para a vida, pois temos a tendência de enxergar as coisas em apenas dois lados. Ou é bom, ou é ruim. Ou é direita, ou é esquerda. E acabamos esquecendo de aprender com o que ambos tem a oferecer. É importante pegar o melhor de cada lado para criar nosso próprio terceiro caminho, único apenas para nós e mais ninguém.

Claro que sempre vamos ter aquele polo com o qual nos identificamos mais, porém é sempre importante nos questionarmos sobre nossas ações e crenças. Da mesma forma que N fez ao longo do jogo, conforme foi descobrindo que a Equipe Plasma não era tão bem intencionada assim e que a relação entre humanos e Pokémon não era de pura servidão, mas sim de amizade e confiança.
Tal qual na filosofia chinesa do Yin Yang, o equilíbrio entre os opostos é fundamental

Esses são os únicos jogos Pokémon onde o embate contra a equipe maligna se estende até os últimos momentos do jogo, com a batalha contra Ghetsis marcando o desafio final antes dos créditos rolarem. Além de ser uma mudança de parâmetros muito bem vinda, essa também é uma forma de mostrar como o enredo e a mensagem por trás dele são importantes ao ponto de receberem todo esse destaque.

Nunca antes Pokémon se aproximou tanto dos clássicos RPGs japoneses, deixando o clímax para o derradeiro final, e é uma pena que a fórmula não tenha se repetido nem mesmo em Black 2 & White 2. Em contrapartida isso torna Black & White ainda mais únicos em toda a história da franquia.

Jamais devemos esquecer daquela vez que Pokémon deu uma segurada nas tradições e nos apresentou Unova, com seu impacto de não ter nenhum monstrinho antigo antes do pós-game e com uma narrativa inesquecível, repleta de lições para a vida real dos treinadores.
Black & White mexeram comigo e me reafirmaram o valor de conhecer diferentes pontos de vista ao mesmo tempo em que se questiona e desenvolve o seu próprio. E vocês treinadores? Que boas lembranças tem desses jogos tão diferentes na franquia Pokémon?

Raphael Barbosa

Mestre Pokémon de longa data, salvador de Hyrule em todas as encarnações do herói e ocasionalmente um encanador de bigode grosso.

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