Pokémon, O Filme: O Poder de Todos | Crítica


Depois do sucesso de "Pokémon, O Filme: Eu Escolho Você", sua sequência chegou com uma enxurrada de expectativas. A maneira extremamente eficaz com que o primeiro filme chegou ao público fez com que muitas pessoas acreditassem que essa nova "saga" de filmes da franquia poderia ser um verdadeiro refresco à parte dos filmes originais. E todo filme carregado de expectativas sempre tem uma grande responsabilidade pela frente.


Talvez o fator "alta expectativa" tenha sido o maior vilão para que a recepção de Pokémon, O Filme: O Poder de Todos não tenha tido o mesmo sucesso do primeiro longa. O filme, que possui claramente um ponto de vista completamente diferente do primeiro, causou certa estranheza em parte dos espectadores justamente porque seu objetivo era diferente. Enquanto o primeiro se baseava na nostalgia e ação, este se baseava justamente no oposto: relação de personagens, leveza e narrativa. O filme não se propõe em nenhum momento a fazer uma batalha memorável, mas sim em intensificar o forte vínculo entre pessoas e Pokémon neste mundo fantasioso criado há mais de 20 anos.


A história começa mostrando que, na cidade de Fura, anualmente, ocorre o famoso "Festival do Vento", que, segundo as lendas, se originou a partir de uma promessa com Lugia. O filme mostra que nem sempre a cidade foi próspera, já que, no início, era um lugar árido e subdesenvolvido, que apenas se mantinha pelo forte vínculo que pessoas e Pokémon estabeleciam. E Lugia, observando esse forte vínculo, prometeu sempre trazer o vento para a cidade, dando a possibilidade desta se desenvolver a partir de uma fonte natural de energia. E foi assim que, conforme o tempo se passou, nasceu a tradição do Pokémon Lendário visitar a cidade anualmente, confirmando se o vínculo entre pessoas e Pokémon se mantinha, e, assim, renovar sua promessa.

Paralelo à isso, o filme mostra que, há 50 anos, um enorme incêndio atacou uma montanha próxima à cidade, o que veio a trazer um desequilíbrio no forte vínculo entre pessoas e Pokémon. Zeraora, o Pokémon mítico guardião da montanha, tentou salvar todos os Pokémon que estavam perdidos no local no momento do incêndio. Mas ao final do dia, dá-se a entender que o Pokémon não sobreviveu, lançando uma maldição na montanha antes de partir. Caso qualquer humano colocasse os pés na montanha, este seria amaldiçoado.


Esses são os dois principais pontos que carregam a trama a todo momento. É importante notar que ambos estão totalmente relacionados não às batalhas, vingança ou uma narrativa complexa, mas sim à algo simples, leve, e com íntima relação com a famosa história da aproximação que os humanos devem ter com os Pokémon. E é justamente por isso que, muito provavelmente, as pessoas tiveram uma primeira impressão ruim a respeito do filme - não é um longa comum da franquia Pokémon, mas sim um que debate sobre outro ponto que fez a franquia ter sucesso: a relação entre seus personagens. O enorme foco dado ao fato de que os humanos são mais fortes quando possuem um Pokémon ao seu lado, por exemplo, reforça essa ideia.

E falando sobre seus personagens, aqui o filme começa a mostrar sua verdadeira força. A narrativa começa a mostrar uma série de personagens vivendo sua vida de forma completamente separada, a princípio dando a entender que não há uma relação entre o que fazem. E em certo ponto da história, todas as narrativas se entrelaçam e, com isso, todos os personagens se juntam. Para que uma história baseada em seus personagens funcionasse da maneira correta, esse entrelaçamento deveria ser feito da forma certa - e felizmente, esse é um ponto em que o filme acerta em cheio. O encontro de todos os personagens é feito de maneira orgânica, mesmo que em um primeiro momento pareça que eles não tem nenhuma relação entre si.


Vale destacar dois pontos em que o desenvolvimento de personagens se destaca: o primeiro deles é relacionado a uma idosa que parece estar a todo momento irritada. O foco dado a sua personalidade rabugenta é suficiente para fazer com que o telespectador passe a odiá-la até certo ponto do filme, já que a mulher simplesmente odeia todos os Pokémon. No entanto, a explicação para esse ódio é mostrada ao final do filme, justificando o motivo pela qual a mulher evita os Pokémon - e automaticamente fazendo com que o telespectador passe a amá-la. O segundo ponto trata-se da filha do prefeito, que estabelece um vínculo fortíssimo com Zeraora, o Pokémon mítico que aparece no filme. A amizade entre os dois e a maneira como a menina consegue atrair a atenção do Pokémon é feita de uma maneira crível, auxiliando as pessoas a acreditarem que eles são amigos há muito tempo.


A técnica de animação do longa é magnífica. A fluidez que os personagens possuem na tela é feita de uma forma diferente da animação do Anime, o que reforça que o filme se passa em uma saga diferente da franquia comum. Além disso, nota-se uma tentativa de fazer com que a animação fique bem mais parecida com mangás japoneses clássicos, com traços dos rostos dos personagens mais bem detalhados e olhos mais bem caracterizados e exuberantes. A criação de mundo, mostrando a cidade e o Festival do Vento, são igualmente bem feitas, criando uma vivacidade e dando a impressão aos telespectadores de que a cidade realmente se desenvolveu a partir da energia eólica e que acreditam na promessa de Lugia.

Sobre a dublagem, este é um ponto que se tornou polêmico desde a troca da equipe de dubladores da franquia. No filme anterior, as vozes não condiziam com o tom nostálgico que o longa queria passar, embora a alta qualidade se mantivesse. Nesse caso, pode-se dizer que os telespectadores já estão se acostumando mais com as novas vozes, o que diminui a estranheza e dá a impressão de que já conhecemos essas vozes há algum tempo. No mais, é uma boa dublagem, sem nenhum tipo de delay ou alguma voz que seja completamente incompatível com o personagem em questão.


Todavia, o longa não é isento de críticas: há sim diversos problemas. E é justamente eles que fizeram com que muitas pessoas o classificassem como um filme ruim.

Em primeiro lugar, não há uma única batalha no filme todo. Nenhum tipo de ação ou cena mais memorável em relação aos Pokémon, ou algo que realmente empolgue o telespectador. E isso poderia nem ser um problema, já que havia a possibilidade de ser tratado apenas como uma mudança de foco narrativo. Porém, pode-se dizer que trata-se um filme um tanto quanto parado, justamente pelo demasiado foco no desenvolvimento de personagens.

Em segundo lugar, um dos pontos mais criticados na semana em que o filme foi lançado foi uma espécie de "propaganda enganosa" envolvendo os Lendários. Lugia, o principal Pokémon que foi utilizado para o Marketing do filme, aparece somente nos 2 minutos finais. Ele literalmente aparece, voa pela tela, e vai embora. Em contrapartida, Zeraora tem um desenvolvimento maior, participando mais ativamente da trama do filme e, assim, podendo ser considerado o real Pokémon Lendário (nesse caso, Mítico) do filme. Se o material promocional do filme não tivesse dado tanto foco em Lugia, talvez o público não teria criado tanta expectativa, e o resultado tivesse sido mais satisfatório.


Opinião Final

Pokémon, O Filme: O Poder de Todos é um filme que certamente foi injustiçado. Isso porque o principal ponto pelo qual se baseia não é aquele que realmente fez a franquia ficar famosa, mas sim um ponto secundário: o desenvolvimento de seus personagens, e a relação destes com seus Pokémon. O fato dele ser mais lento foi um ponto decisivo para que muitas pessoas o classificassem como ruim, e a enorme propaganda criada ao redor de Lugia em seu material promocional fez com que a aparição do Lendário no longa fosse, no mínimo, decepcionante. Embora os dois Lendários (Lugia e Zeraora) tenham um papel crucial na trama, a pouca ação que foi criada em torno deles - mais impactante no caso de Lugia do que de Zeraora - justifica a revolta dos fãs.

Entretanto, certamente não podemos classificar o filme como sendo ruim. Como dito, este foi um longa injustiçado. É preciso entender que seu foco não é ser nostálgico, como seu antecessor, nem ser cheio de ação, como a maioria dos filmes da franquia. É um filme que se baseia completamente nas relações que seus personagens criam entre si, e tenta ao máximo demonstrar que, quando os humanos possuem um Pokémon ao seu lado, eles são capazes de fazer diversas coisas que jamais seriam capazes de fazer sozinhos.

  • Nota Final: 7,5/10,0

Lucas Avancini

Fã desde muito pequeno, cresceu assistindo, jogando e colecionando tudo relacionado à franquia. Acredita que fazer parte de um dos maiores portais brasileiros de Pokémon no Brasil é um antigo sonho se tornando realidade, já que sempre quis desenvolver algo para contribuir com a comunidade no país. Formado em Administração pela Universidade de São Paulo e atualmente atuando no ramo de tecnologia.

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