Olá, galerinha!
Depois de tanto tempo juntos, chegou a hora da última crônica. Talvez por isso ela tenha ficado tão especial, tão diferente das outras. Se mitologia japonesa é a sua praia... Recomendo que leia! =)
Vocês devem saber que a Froslass é baseada na lenda da Yuki-onna, a mulher da neve que inspira tanto paixão e curiosidade quanto terror. Hoje tem folclore nipônico, tem animações, tem trilha sonora, tem tuuuudo a que vocês têm direito, galera! \o/
Simbora, conhecer os mistérios da última crônica da segunda temporada das Crônicas de Bolso! A sugestão musical é essa AQUI, atendendo a pedidos do nosso amigo, Tiago Eusébio. Agora, vamos à história! =D
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A dama da neve do folclore japonês.
E parabéns a quem acertou em cheio no palpite da silhueta na semana passada! Vamos de Froslass e Glalie na Mongólia! Emoticon das palminhas para vocês! xD
Emoções de Gelo: Glalie e Froslass
A única coisa que a mantinha viva era a batida de seu coração. Os gritos de desespero de seus pais estavam ficando cada vez mais distantes, mais distantes... Tão jovem e tão inocente, injustamente agredida pelo destino trágico do que deveria ser uma viagem para comemorar a chegada de um novo ano, a chegada do ano que nunca veio. A cada passo no labirinto branco que era aquela floresta durante o inverno, aquela moça parecia estar mais perto de seu fim. Suas pernas doíam, o que era bom sinal, já que não sentia mais seus braços há quase uma hora. Até mesmo as lembranças horríveis do momento em que fora arremessada para fora da carroça pareciam estar sumindo, soterradas embaixo da neve.
Talvez fosse culpa de seu pai, que insistiu em continuar a viagem em meio a uma violenta nevasca, como não se via há décadas. Talvez fosse sua própria culpa por não ter se segurado com força naquele galho quando estava a ponto de despencar pelo barranco. Talvez, talvez... fosse simplesmente o chamado dos que não podem falar, mas falam.
Ela teria sorte se houvesse encontrado algum lobo ou algo que pusesse fim à sua vida de forma mais rápida, mas ela infelizmente teve um fim longo e doloroso. As únicas coisas que contrastavam com o branco da neve eram seu lindo cabelo, longo e negro, liso como a seda de seu quimono, e as gotas de sangue que pingavam de seus ferimentos, colorindo a neve de vermelho. Como uma moça tão jovem e bela poderia ter um destino daqueles? Era doce, boa filha e boa irmã, do tipo que facilmente faria um bom casamento. No entanto, o sopro do vento frio assobiava para ela, chamando-a sem parar...
Seu nome era Yuki, triste ironia para quem estava prestes a morrer na neve. Seus lábios estavam rachados, andava com dificuldade, um pé torcido e escoriações espalhadas pelo corpo. Sequer sabia para onde ia, tudo era tão semelhante, apenas árvores, pedras, neve caindo e o hálito congelante do vento. Estava tão exausta, tão enfraquecida... que lhe pareceu atraente deitar-se sobre uma grande rocha para descansar. E foi assim que ela fechou os olhos pela última vez.
Não sabia por quanto tempo perambulou, o tempo se confundia. Minutos, horas e dias não faziam mais sentido. A própria vida não fazia mais sentido. Yuki adormeceu e ficou deitada sobre a rocha até que seu corpo fosse inteiramente sepultado pela neve. Pouco a pouco, o cansaço foi dando lugar a uma reconfortante preguiça, a nevasca passou e ela já não mais tremia, mesmo que o frio continuasse ali. Yuki permaneceu desacordada por muito tempo, mas curiosamente retinha sua capacidade mental, era como um longo sonho que nunca teria fim. Memórias de sua tenra e tão curta vida vinham à sua mente e desapareciam momentaneamente, esquecia-se de tudo o que havia passado e sentia que o laço que a prendia à matéria estava prestes a se desfazer. A tristeza da partida, suas angústias e anseios, tudo ficava cada vez mais distante. A única coisa que Yuki levou consigo foi a indignação, recusando-se a seguir adiante e esquecer da vida que lhe foi tirada antes mesmo de conhecer o amor.
Quando a angústia se tornou mais forte que a apatia, a moça finalmente abriu os olhos e viu que não estava mais na floresta em que se perdeu. Tudo era turvo e repleto de ilusões, não havia céu e nem terra, apenas um nevoeiro eterno sob seus pés. O vento cantava e carregava almas perdidas para todo lado, vultos apareciam ao seu redor e logo se desfaziam em pleno ar. Mesmo com o ar gelado, já não sentia frio ou medo. Yuki vagou eternamente pela fria terra dos esquecidos sem ter conhecido o amor.
A jovem se negava a seguir na direção em que o vento soprava, mas seu assobio penetrava por seus ouvidos, chamando-a para junto dele, só que ela nunca atendeu a esse chamado e aquilo poderia lhe trazer consequências graves...
Mesmo que não aceitasse, o mundo humano já não era mais sua casa e seu próprio espírito se transformava, abandonando uma forma que não lhe servia mais. Seu corpo foi ficando cada vez mais leve e frio, deslizava pelo nevoeiro eterno sem precisar fazer esforço algum. Quando finalmente se deu conta, percebeu que já não tinha mais seus pés para andar, seu espírito sobrevoava solitariamente na busca do que lhe foi proibido. Seu corpo se modificou de tal forma, que provavelmente não havia mais nada por baixo de seu quimono além de um coração partido. A jovem Yuki se transformou na dama da neve, Froslass.
O espírito da jovem inconformada com seu destino atravessou as linhas do tempo, viajando com o vento frio inverno para onde quer que fosse. Froslass vagou no entremundos e testemunhou as mais diferentes faces da humanidade, desde a libertação de povos aos horrores das guerras. No entanto, Froslass nada podia sentir, pois já não tinha mais um coração e suas lembranças se apagavam na medida em que ainda continuava na terra dos esquecidos. Froslass perdia a fé na humanidade, mas nunca a fé no amor. Quanto mais permanecia na eternidade, mais forte seu desejo ficava. O canto do vento não mais entraria em seus ouvidos.
Certa vez, enquanto vagava pelas montanhas da Mongólia, uma terrível tempestade de neve destruiu casas, matou o gado das fazendas e interrompeu toda a produção agrícola. Várias pessoas eram atraídas pelo sussurro do inverno até que seu hálito congelante fosse soprado sobre elas, trazendo-as para perto dos que se foram. Aquilo seria apenas mais uma das muitas nevascas que já vira, mas algo despertou dentro de si, algo que batia dentro de seu peito e a trazia um sofrimento há muito esquecido.
As pessoas desaparecidas, as almas que vagavam sobre a neve, os flocos de neve que cobriam a paisagem, aquilo tudo lhe era estranhamente familiar, embora um tanto quanto diferente. Froslass começou a ouvir o choro de todas as pessoas que sofriam pelas consequências do inverno em todos os cantos do mundo. Pela primeira vez, voltou a ouvir a voz dos humanos. Era como um cubo de gelo que se partia em dois. Percebendo que Froslass estava prestes a desistir definitivamente do caminho que deveria seguir, um redemoinho se formou ao seu redor e o nevoeiro começou a se dissipar, mesclando-se com a própria neve. Froslass tampava seus ouvidos para não escutar o chamado do outro mundo, queria sua vida de volta. A dama da neve desafiava o redemoinho, avançando em sua direção com dificuldade, o vento tentava prendê-la para que se afastasse do mundo terreno, mas algo no peito dela voltava a bater. Froslass ergueu suas mãos para atravessar o véu invisível que separava os dois mundos e finalmente conseguiu romper a barreira da realidade, abrindo um buraco no nevoeiro e se lançando através dele. Seu corpo ficava cada vez mais pesado à medida que despencava do céu e Froslass finalmente atingiu o chão em cheio, tendo sua queda amparada pela neve que cobria o que parecia ser um pasto. Era a primeira vez em séculos que sentia dor novamente.
Froslass estava fraca, altamente debilitada, não pertencia a lugar nenhum e sabia que não devia estar ali. Por um instante, parou de ouvir o sopro do vento, a única coisa que ouvia era seu coração batendo em um ritmo descompassado. Estava desafiando todas as leis superiores à justiça humana, mas nada a faria aceitar partir sem viver um verdadeiro amor.
A primeira coisa que fez foi olhar suas mãos e seus pés. Sua pele era pálida, mas definitivamente estava em uma forma humana. Embora não se lembrasse mais de como era seu antigo corpo, ela tocou o próprio rosto e acariciou suas bochechas, não havia marcas de tempo em sua face. Yuki era jovem, mas não tanto quanto antes, agora ela já era uma bela mulher, ainda com longos e lisos cabelos negros, que se estendiam até o quadril.
Ainda em êxtase com seu próprio feito, Yuki continuou deitada no chão, virando seu rosto de um lado para o outro enquanto tentava buscar algum sinal de civilização. Ela já não era mais aquela menina de antes, já vira tantas coisas na terra dos esquecidos que o medo não lhe afligia mais. Quando ela ergueu os olhos para o céu, viu seu rosto ser banhado pela claridade do sol, a nevasca que devastava a região havia parado milagrosamente e ela sabia que era a responsável por aquilo. De repente, a claridade que a fazia cerrar os olhos foi coberta por uma sombra comprida que tampava a luz do sol. Ao abrir os olhos, Yuki foi surpreendida:
— Você está bem?
Yuki não conseguia compreender o que aquele homem lhe dizia, mas também não via maldade em seus olhos. Ela tentou balbuciar qualquer palavra, mas ela não era mais a menina japonesa de antes, sequer sabia qualquer idioma. Yuki era como um bebê que havia acabado de nascer, totalmente dependente da ajuda externa para se adaptar à realidade humana novamente. O homem repousou a tapeçaria que carregava no chão e desembrulhou um dos panos que estava transportando e cobriu Yuki, finalmente lhe dando algo para vestir.
Em uma de suas tentativas falhas de comunicação, o homem se apresentou e disse que seu nome era Khan, um alfaiate e tapeceiro que vivia sozinho aos pés da montanha, afastado do vilarejo. Ele aparentava ter por volta de seus trinta anos, em vias de completar quarenta, era curioso como um homem naquela idade não havia constituído família. Apesar de bastante sério, a beleza sobrenatural de Yuki parecia dar a ele uma dose de paciência extra.
Khan abraçou Yuki e a levou para sua casa, pois seria incapaz de abandoná-la à própria sorte no meio da neve. Ela prestava atenção à boca do trabalhador, como se seus lábios pudessem lhe explicar aquele tão estranho idioma mongol. Por outro lado, Khan estava praticamente certo de que a desafortunada donzela era muda. Yuki caminhava com dificuldade, não pelos ferimentos que Khan julgava que tivesse, mas por ter desaprendido a andar com os pés na terra. A dama da neve devorava com os olhos tudo o que via ao seu redor, era tudo tão iluminado e nítido, as formas e as cores faziam sentido novamente.
Ao chegarem em casa, o homem tentou acomodá-la em uma cadeira pouco confortável e pôs um pouco de sopa para esquentar no fogo. Era uma simples choupana com cheiro de madeira e sem maiores luxos, os poucos móveis e objetos decorativos facilitavam o deslocamento pelo interior dos cômodos, separados por cortinas que provavelmente ele mesmo havia feito. Khan se aproximou novamente dela e fez uma nova tentativa de comunicação, usando gestos e falando pausadamente. Yuki tentava compreender o que ele queria dizer e até repetia as palavras que ouvia, embora não fizesse ideia do que estivesse dizendo. Suas feições ainda nipônicas levaram Khan a sugerir que ela fosse estrangeira, o que explicava muito da situação. Em seguida, ele voltou à cozinha e trouxe de lá uma tigela com sopa, assoprando o vapor para esfriar a comida, e a ofereceu para Yuki. A comida lhe pareceu pesar o estômago, não estava mais acostumada às necessidades físicas dos humanos, mas achou tudo aquilo muito saboroso.
Tão logo se deram conta, a noite já havia caído. Khan começava a se preocupar com Yuki e sentia-se... responsável por ela de alguma forma. Ele não era um homem de muitos amigos, sequer ajudava os necessitados, mas ela despertava a humanidade nele. Khan improvisou uma cama minimamente confortável para que Yuki pudesse descansar e aquela foi a primeira de muitas noites que eles passariam juntos desde então.
Os primeiros dias foram de adaptação. Yuki precisou aprender a rotina da casa e prestava atenção em cada movimento que Khan fazia para tecer cortinas e tapetes ou cerzir roupas sob encomenda. Nas raríssimas vezes em que algum cliente batia à sua porta, ele fazia sinal para que Yuki se escondesse, ambos não queriam ter que dar satisfações de suas vidas para os outros.
A comunicação entre eles era basicamente não verbal, talvez a linguagem dos olhos fosse universal. Apontando para objetos e fazendo gestos, os dois conseguiam se entender. Surpreendentemente, Yuki até começou a aprender o básico do idioma mongol, Khan realmente tinha muita paciência com ela...
Sem que pudessem perceber, a relação dos dois foi sendo costurada fio a fio, entrelaçando as linhas do destino de cada um. O que começou como um ato de caridade, logo se transformou em parceria e utilidade na lida com as coisas do dia a dia. Yuki o auxiliava na separação e corte de panos, batia os tapetes a serem vendidos para que não acumulassem poeira, varria a casa e até aprendeu a cozinhar. O trabalho que antes era só de um, agora era dividido entre os dois e Khan pôde se dedicar mais ao trabalho e ao comércio de suas peças, o que aumentou bastante sua renda, pois sabia que, em casa, havia alguém que continuava a fazer mais tecidos.
Vendo sua vida prosperar até mesmo após um inverno rigoroso, Khan via Yuki como seu amuleto pessoal de boa sorte. O jeito com o qual ele cuidou dela era retribuído a cada sorriso que recebia de sua querida companheira ao retornar para casa. Sua felicidade era tanta que ele passou até a produzir peças mais bonitas e com acabamentos de melhor qualidade. Mesmo que não costurasse roupas femininas, ele fazia questão de presentear Yuki com belíssimos quimonos brancos feitos com suas próprias mãos, do jeito que ela gostava.
A cada dia, a vida dos dois tecia novos fios de um destino em conjunto. Viveram momentos felizes e dificuldades, testemunharam a transição das estações, o ir e vir das flores e do gelo. Embora Yuki não se esquecesse de quem era e de onde deveria estar. Embora os invernos que passou ao lado de Khan não fossem tão rigorosos quanto o primeiro, era particularmente difícil para Yuki, pois quem trazia o frio era o vento, o mesmo vento que sabia de sua rebeldia e tentou impedi-la uma vez. A cada novo inverno, o canto do vento se fortalecia e o chamado da terra dos esquecidos sussurrava ao pé do ouvido da dama da neve, clamando para que ela retornasse aos seus.
Assim como a natureza tinha seu próprio ritmo, Yuki e Khan naturalmente se apaixonaram perdidamente. O companheirismo nas atividades diárias levou um a admirar o outro, um a querer o bem do outro. O afeto e o carinho brotaram naquela casa, que Yuki finalmente pôde chamar de lar. Em um determinado dia, Khan parou o que estava fazendo e olhou para Yuki e assim ficou por alguns minutos, vendo como ela amarrava diversos tapetes e os colocava na carroça, já falando seu idioma com fluência. Ele se levantou, caminhou em direção a Yuki, que não entendia seu olhar fixo e sonhador, e a tomou em seus braços. Tanto ele quanto ela tiveram certeza de foram feitos um para o outro.
Se o canto do vento invernal ficava mais forte a cada ano, era o amor de Khan que fortalecia o desejo de Yuki de ficar na terra. Um amor tão profundo e verdadeiro que estava acima do regimento da vida e da morte. A dama da neve não estava viva, mas também não estava morta e mesmo assim fora capaz de fazer germinar não apenas uma semente de amor no coração de Khan, mas também uma semente de vida em seu próprio ventre.
A dama da neve engravidou e continuou vivendo em segredo na choupana do homem dos tecidos, ponderando suas atividades com os desconfortos e limitações da gestação, sempre cercada dos mimos e zelos de seu apaixonado marido. A gravidez é um momento marcante para qualquer mulher, mas para Yuki representava a concretização do seu sonho e a prova de que ela estava certa em lutar pelo que acreditava, algo que nem mesmo as almas esquecidas poderiam lhe tirar.
Nove meses se passaram até que finalmente Yuki começasse a sentir as dores do parto enquanto cortava lenha para acender a lareira, justamente para que pudessem se aquecer durante o frio de um novo inverno. Já era tarde, o céu estava claro, mas um súbito vento frio lhe percorreu a espinha. Deixou cair a machadinha ao chão e logo pôs as mãos sobre a barriga, estava relativamente longe de casa e sem qualquer tipo de assistência. Começou a nevar. Yuki estaria sozinha com seus próprios instintos se não fosse a presença do inverno. Ela se sentou e começou a respirar rapidamente, fazendo muita força e suportando fortíssimas contrações em intervalos de tempo cada vez mais curtos entre uma e outra. Sua pele estava gelada, tão fria quanto a que tinha quando Froslass. Yuki estava praticamente delirando de dor, suava, tremia, mas seu coração continuava silencioso. A dor era tão intensa que servia como uma anestesia natural, ela sentia que estava dando à luz um filho, mas desmaiou antes de poder terminar o parto.
Quando Yuki acordou, não sentia absolutamente nada, embora estivesse carregando algo em seus braços. Recostada ao pé de uma árvore frondosa, a mãe observou seu filho pela primeira vez e o que viu lhe causou... estranheza. O bebê parecia calmo, estava dormindo tranquilamente em seus braços, mas nem de longe parecia com... o que deveria parecer. Yuki havia dado à luz um pequeno Snorunt.
A neve havia parado e o vento não mais assobiava. Havia apenas o silêncio salpicado de pensamentos. Ela, que já havia visto de tudo no mundo, voltou a sentir o gosto do medo e nem de longe aquilo era semelhante ao gosto saboroso da sopa que seu marido fazia. O mesmo marido cuja reação ela temia ao saber que aquilo seria seu filho. Embora o pequeno duende do gelo não fosse humano, Yuki sentia que era mãe dele, sentia que amava ele.
Caminhando lentamente de volta para casa, a mãe de primeira viagem fazia questão de andar devagar para poder ter alguma ideia de como convencer seu marido de que Snorunt era seu filho. No entanto, o reencontro com seu amado não tardou muito para acontecer. Segurando um lampião e bastante agitado, Khan finalmente encontrou Yuki vagando no meio da noite a poucos metros de casa e correu para abraçá-la sem sequer notar que ela carregava algo nos braços. Quando sua preocupação com o desaparecimento de Yuki foi aplacada, ele notou que ela carregava seu filho nos braços.
A primeira reação foi a mesma da mãe, uma mistura de incredulidade e negação permeada pelo choque da aparência exótica de Snorunt. Yuki começou a chorar copiosamente, gritando para fora de seu peito todas as agonias até ficar exausta. Khan não sabia como agir, estava assustado, tinha medo de magoar sua amada tão fragilizada, mas tentado a receber o que quer que fosse aquilo como fruto do seu amor por Yuki.
Quando a dama da neve finalmente foi vencida pelo cansaço e o ar lhe faltou, seu pranto cessou. Pouco a pouco, ela foi se acalmando até que Khan a abraçou novamente e disse:
— Eu sempre soube que você era diferente, especial... Desde o dia em que te vi pela primeira vez, pude sentir que havia algo de único em você, algo diferente das pessoas comuns. Eu... não sei exatamente quem ou o que você é, também não sei de onde você veio, mas eu sei que você me faz feliz. Eu confio em você e acredito no nosso amor. Seja lá o que for que tenha acontecido, eu te aceitei... e aceito o nosso filho também.
Yuki achava que já sabia o que era o amor, mas a atitude de Khan a fez perceber que o que ela já sabia a seu respeito ainda era muito pouco. Agora, ela tinha total certeza do amor que Khan tinha por ela. Eles foram andando lentamente até retornarem ao seu lar, sem trocar uma única palavra durante o caminho.
Já era tarde da noite, ambos estavam muito cansados, mas a urgência da situação fez com que tivessem forças para trabalhar na construção de um pequeno bercinho improvisado para o recém-chegado Snorunt. Yuki se deitou na cama e logo adormeceu, enquanto seu marido zelava pelo sono do filho no berço, mas não demorou muito para que ele, mesmo sentado, também cedesse ao cansaço.
Porém, no meio da noite, sorrateiramente, uma leve brisa começou a atravessas as frestas da janela e adentrar no recinto. Era como uma longa mão de dedos finos que abria caminho até chegar onde queria. De repente, um vendaval arrebatou a casa dos dois, escancarando portas e janelas e percorrendo todos os cantos daquele lugar. Era como se o vento estivesse à procura de algo, e realmente estava. O vento do inverno começou a soprar no ouvido de Yuki o chamado do lugar ao qual ela pertence. O ar gelado envolveu a dama da neve e seu filho em um pequeno redemoinho, como uma maca etérea a carregar seus corpos. Todos permaneciam adormecidos, mas o vento da terra dos esquecidos suspendeu Yuki e Snorunt em pleno ar, fazendo-a levitar sobre a cama e sobrevoar o interior da casa sutilmente com o balança sinuoso das correntes de ar. O vento chamava por ela e a trazia em seus braços pela porta da choupana, de onde se ergueu em direção ao céu, trazendo Yuki e Snorunt para perto suas mãos. No alto do céu, uma nuvem densa esperava pelos dois e, quanto mais se aproximavam dela, mais a forma humana de Yuki cedia lugar à sua forma etérea de Froslass, até que mãe e filho pudessem ser dragados para dentro do nevoeiro. Da mesma forma como ela havia vindo, ela partiu. O vento do frio do inverno finalmente conseguiu capturar a Froslass perdida, que agora retornava ao esquecimento da eternidade...
O dia seguinte amanheceu cinzento e deprimente, até mesmo o sol parecia não fazer questão de brilhar, a luz parecia não querer iluminar. Bastou um esticar de braços para que Khan se desse conta de que Yuki não estava na cama. Bastou arregalar os olhos desesperadamente para perceber que Snorunt também não estava no berço. Depois de anos vivendo sozinho, Khan havia também conhecido o amor, mas teve tudo arrancado de si antes mesmo de poder aprender a ser pai. Sem dúvidas, o primeiro dia foi o pior. Era como se seu coração fosse atravessado por uma flecha a cada minuto e nada fosse forte o bastante para matá-lo de vez. Khan não comeu, não dormiu, sequer passou a noite em casa, quase morrendo congelado do lado de fora. Ignorava suas próprias necessidades enquanto buscava vorazmente pelo rastro de sua esposa e filho.
Khan parou de trabalhar e passou a sobreviver com o alimento que estocou e o dinheiro que acumulou durante os anos de prosperidade ao lado de Yuki. Vasculhava diuturnamente os arredores das montanhas, subia até o topo das mesmas vez por outra, até traçava mapas e talhava indicações nos troncos das árvores caso Yuki estivesse perdida. Foram semanas de angústias e inseguranças, julgava-se culpado por supostamente não ter atendido as necessidades de sua amada ou por ter inicialmente rejeitado o bebê Snorunt. Quando ele visitava a cidade, indagava as pessoas no meio da rua, perguntando se alguém havia visto uma mulher de quimono branco e longos cabelos negros a perambular com uma criança nos braços. Era impossível que a reconhecessem, Yuki sempre se escondia dos olhos dos outros. Tachavam-no de louco, talvez realmente estivesse ficando louco...
Sempre que se deitava para dormir, Khan chorava, algo que nunca havia feito na vida, batia no próprio peito como se pudesse fazer seu coração parar de doer e chamava por Yuki. Às vezes, até parecia ser capaz de ouvir seu choro em algum lugar muito distante, um choro melódico que entrava em sua mente.
A dor foi dando lugar ao rancor e este tornou seu coração amargurado. O tempo passava e Khan sentia seu corpo endurecer, envelheceu rapidamente em poucos meses, toda a sua vitalidade foi levada com Yuki. As lembranças dos tempos felizes foram se distanciando, mas o homem lutava contra sua própria mente para que não se esquecesse de sua família. Rugas e marcas de velhice começaram a aparecer em seu rosto, seu semblante fechado se tornou sombrio e até sua coluna começou a se encurvar, fazendo-o ficar ligeiramente corcunda. De tanto se expor ao frio, seu próprio corpo começou a apresentar algumas lascas de gelo, deixando seus movimentos rígidos e ainda mais lentos. Naquela altura, ele mesmo começava a questionar sua própria sanidade mental, será mesmo que Yuki havia existido ou tudo não passava de um delírio?
Talvez estivesse mesmo ficando louco. As vozes que ouvia quando dormia passaram a lhe acompanhar por onde quer que passasse, curiosamente acompanhado de um vento gelado. Às vezes, começava até a nevar ao seu redor, mesmo que não fosse tempo para isso. Khan começou a ouvir o canto da terra dos esquecidos...
Seu tempo estava ficando tão curto quanto seus movimentos, andava com dificuldade, parecia carregar uma armadura que nunca o abandonava. Certo dia, finalmente sua hora chegou. O peso no coração de Khan desfez o enlace que o prendia à matéria e uma leve neblina foi se formando delicadamente ao seu redor. O ar gelado parecia entrar pelos poros da pele, Khan sentia-se pesado e leve ao mesmo tempo, não sentia mais os braços nem os pés, mas sentia-se livre para se mover. Estava confuso e dormente, não tinha noção do que acontecia, mas estava consciente. A visão estava nublada, via um jogo de luzes e sombras permeadas por uma nebulosidade translúcida.
Khan saiu de casa para encontrar Yuki e estava longe quando finalmente partiu para seu encontro derradeiro. De tanto seu coração chamar por ela, finalmente descobriu o caminho para encontrá-la, do outro lado do nevoeiro. Khan agora era um Glalie, cuja armadura de gelo representava as dores que seu coração carregou e as adversidades que seu corpo suportou.
Vagando pela terra dos esquecidos, Glalie sentia algo estranhamente familiar, era como se todo aquele lugar tivesse um pouco da energia de Yuki, fragmentos dela espalhados no nevoeiro pelo vento do inverno. Tudo ali tinha o ar, o mesmo tom dela. Talvez por isso que ela ficasse tão desconfortável quando sentia o frio se aproximando durante o inverno...
Glalie desviava dos vultos perdidos que não sabiam para onde ir quando percebeu que uma corrente de ar parecia conduzir todos para algum lugar, mesmo sem saber para onde, mas aquilo era tudo o que Glalie precisava, um destino. Viajando pelo entremundos, Glalie conheceu as mais diferentes histórias dos que foram esquecidos em diferentes povos e tempos, viu dores maiores e menores que a sua e aprendeu a deixar o passado para trás.
Era apenas questão de tempo até que Glalie finalmente se reencontrasse com Froslass, tempo este que inexiste na eternidade. Conforme Glalie seguia o caminho do vento, visitou diversas regiões cobertas pelas penumbras do nevoeiro e nada poderia fazê-lo esquecer de sua amada. Froslass estava sentada com Snorunt em seus braços, ainda relutante com a ideia de prosseguir e deixar seu amor cair em esquecimento. O mesmo vento que levou a dama da neve e o filho dela embora também trouxe seu amado ao seu encontro, fosse tarde ou fosse cedo, o tempo inexiste perante o eterno. Glalie avançou silenciosamente em direção a Froslass e mesmo que seu hálito fosse gélido, ele aquecia o coração sofrido da dama da neve, que finalmente se reuniu com ele para todo o sempre.
Eles nunca souberam de onde vinham e nem para onde iam, o vento que leva é o mesmo que traz. O inverno que termina um ciclo retorna depois. Froslass tocou o rosto de Glalie e sua armadura de gelo começou a se partir, não havia mais algo que justificasse o peso e a rigidez que trazia consigo. A armadura de gelo rachou e caiu sobre o nevoeiro assim como seu chifre. De dentro daquela carapaça, Khan ressurgiu em sua forma humana. Ao ver novamente o rosto de seu marido, o corpo de Froslass se desfez, fazendo o quimono branco que usava cair lentamente até o chão, de onde Yuki se reergueu novamente como humana.
O bebê Snorunt desceu do colo da mãe e caminhou em direção ao vazio absoluto e, de repente, toda a escuridão e as nuvens densas se afastaram ao comando dele, formando uma espécie de círculo à frente de Yuki e Khan. Correntes de ar surgiam de todas as direções e começaram a percorrer as bordas do círculo vazio até que uma luz intensa se formou em seu interior, como um portal que se abria diante dos dois. Snorunt atravessou o portal que levava a uma terra de beleza indescritível, repleta de flores, onde havia um enorme palácio feito de jade. Ao cruzar o portal, o pequeno duende de gelo assumiu também sua forma humana. Yuki e Khan deram as mãos e finalmente concordaram com o destino que vento do frio do inverno havia reservado para eles desde o princípio.
E assim termina a história de hoje...
- - - - - - -
Bom, pessoal. Eu queria primeiramente agradecer a companhia de todos vocês durante todo esse longo tempo, desde os nossos tempos mais áureos até os trancos e barrancos que precisamos enfrentar. Estou profundamente feliz e satisfeito por ter concluído minha missão com vocês! =')
É... então, isso não é uma despedida! Eu vou continuar aqui na Pokémon Blast News, sempre pertinho de vocês. Quero pedir que fiquem ligados no site, já temos um sorteio rolando no Facebook
Então teremos altas novidades até o final do ano, incluindo Pokémon Sun & Moon, tanto nos jogos quanto no anime. Aí vocês terão um pouquinho de coisas para se ocupar enquanto a gente tira aquelas férias que normalmente tiramos entre uma temporada e outra. ^^
Provavelmente devo trazer algum novo guia ou matéria nesse meio-tempo, talvez até brincar um pouco com a Cápsula do Tempo, mas prometo que a gente se reencontra mais tarde! Agora eu estou indo, galera! uma ótima semana para todos nós! \o/
Frolass um dos melhores designers
ResponderExcluirEu concordo e muito! Ela está no meu Top 3 de Tipo Gelo! =D
Excluirlegal
ResponderExcluirValeu. ^^
ExcluirTEMAAA DA PEROLAAAAAAAA
ResponderExcluirSimmmm! xD
ExcluirEu não sabia que tanta gente gostava desse desenho, eu mesmo não conhecia até pouco tempo atrás. =P
Ótima história!! Parabéns pelo belo trabalho
ResponderExcluirFico muito feliz que tenha gostado! Muito obrigado por ter comentado. ^^
ExcluirFiquem todos à vontade para ler as outras crônicas. =)
Chorei, como eu já falei : vai escrever um livro!!!!
ResponderExcluirHahahahahah! Poxa... eu não entendo nada como essas coisas funcionam, editora e blá blá blá. Nunca pensei nisso dessa forma. xD
ExcluirMas olha, se você tiver algum parente que trabalha numa editora aí da vida, me avisa! kkkkkkkkkkk \o/
Até mais! ^^