Crônicas de Bolso: Indomável Voador - Noctowl

Olá, galerinha!

Estamos de volta nesta quarta-feira com as Crônicas de Bolso! Bom, vocês já estavam sabendo que eu não fazia ideia de que Pokémon trazer hoje, mas... as suas sugestões vindas do céu trouxeram novos ventos. Vamos voar nessa nova história! Só acho uma pena não poder atender a todos os pedidos de uma vez só. =P

Chega de trocadilhos com coisas de pássaros! Já deu para ver que hoje é dia de Indomável Voador, não é? Agora, fechem os olhos e sintam o silêncio da noite. Teremos corujas, teremos Noctowl! ^^

Quem quiser ler as crônicas antigas, basta acessar o Índice AQUI. A trilha sonora da história de hoje é essa AQUI. =)

***REPOST EM 11/03/2017 DEVIDO AO CONCURSO DE DESENHO***

Só agora o Fletchling chegou?

   O que acontece quando alguém se vê obrigado a não ser o que deveria ser? O que acontece quando se perde aquilo que era sua característica mais marcante? De que adianta uma caneta que não escreve ou um rádio que fica mudo? Por si só, isso já é suficiente para atestar que algo ou alguém está condenado para sempre? Sempre há uma forma de contornar e ir além, mesmo na mais absoluta escuridão.

Indomável Voador: Noctowl



   Que as diferenças existem, todos sabem. No entanto, não é só a diferença entre um e os que estão ao seu redor que importa, pois, na verdade, a diferença mais importante a ser observada é aquela que está dentro de cada um.
   Somos diferentes do que realmente somos e descobrir o que se é em essência é o verdadeiro desafio. Basta ter olhos para enxergar as semelhanças e diferenças entre seres de uma mesma espécie, mas nem todos conseguem ver o seu interior. Enxergar o que há dentro é tão importante quanto enxergar o que há fora.
   Muitos agem de forma a manter as aparências ou serem aceitos em determinado bando, outros se vangloriam do que fazem ou de quem julgam ser. A questão é que, muitas vezes, quando se perde muito tempo admirando o que se vê nos olhos alheios, esquece-se de olhar para dentro de si.
   Por muitos anos, uma extensa floresta de coníferas ao sul do Canadá foi o lar de caçadores e lenhadores, dispostos a devastar os recursos que a Natureza os emprestava, pois ela sempre cobrava aquilo que lhe tiravam.
   A qualidade primorosa dos troncos das árvores chamou a atenção de muitas madeireiras e o que era uma enorme floresta foi reduzido a poucos hectares de vegetação. A fauna sofreu o impacto da perda de seu habitat natural, sendo obrigada a lidar com a invasão humana.


   No entanto, era especialmente pior para uma espécie de coruja bastante comum naquela região. Os Hoothoot e Noctowl eram tidos como um tipo raro de ave, possuíam uma plumagem marrom extremamente bela e olhos vermelhos marcantes. Por serem comuns apenas naquela região do mundo, muitos caçadores se embrenhavam na floresta à noite, tentando capturar essas aves para vendê-las no mercado ilegal de aves exóticas.
   Com as poucas árvores, as corujas se viam obrigadas a povoar uma pequena região, tornando-se alvos fáceis para qualquer caçador. Os Hoothoot e Noctowl eram obrigados a agir com muita cautela, pois havia armadilhas para capturá-los em todos os cantos da floresta.
   O resultado não podia ser diferente, as corujas tornaram-se ariscas na presença de humanos e hipnotizavam seus predadores para fugir, mas não tinham como competir com os caçadores. Como resultado, os Hoothoot eram vendidos para milionários excêntricos e os Noctowl eram pendurados nas paredes como troféu de caça. Não levou muito tempo para que toda a espécie entrasse em risco de extinção e desequilibrasse o ecossistema local, pondo em risco a harmonia nas cadeias alimentares da floresta.
   O resultado foi tão trágico que ocorreu uma superpopulação de insetos e roedores na região, que, por sua vez, se alimentavam de folhas e frutos, fazendo com que a floresta como um todo entrasse em colapso.


   E assim como o problema surgiu da interferência humana, a solução também teve que vir. Diversas organizações e grupos de biólogos propuseram medidas de proteção à fauna e à flora daquele lugar. As condições da floresta e a pressão popular conduziram a situação e logo a floresta ganhou o status de reserva ambiental.
   Patrulheiros ambientais faziam rondas diárias pelo perímetro da floresta e mudas de árvores eram plantadas para estimular o reflorestamento. Alguns Hoothoot foram criados em cativeiro para estimular a reprodução da espécie e retornar ao equilíbrio original. Pouco a pouco, foi ficando cada vez mais raro encontrar algum lenhador ou caçador naquela região e os que persistiam em interferir no equilíbrio ambiental eram severamente punidos.
   Os anos se passaram e a Natureza tratou de retornar ao seu próprio ritmo, mas era impossível apagar a presença humana dali. Mesmo que muitas das armadilhas tivessem sido encontradas e desarmadas, ainda havia uma ou outra que os patrulheiros nunca encontravam.
   E foi uma dessas marcas de um passado triste que trouxe a escuridão eterna à vida de um dado Hoothoot. Sendo criado desde recém-nascido em meio a veterinários, o filhote de coruja foi um sucesso na tentativa de acasalamento de dois Noctowl em cativeiro. Por razões naturais, a mãe rejeitou o filhote, mas os pesquisadores não podiam deixá-lo morrer, colocando-o em uma incubadora por dias. 
   Todos sabiam que o pequeno Hoothoot tinha que se adaptar à vida selvagem o quanto antes e o libertaram assim que ele se tornou capaz de voar e de procurar alimento por conta própria. Porém, o que era para ser uma vida solitária na floresta acabou sendo uma vida sombria.


   Poucos dias após ser solto na floresta, o pequeno Hoothoot encontrou um punhado de frutas cuidadosamente dispostas sobre uma folhagem. Assim que a coruja pisou nas folhas, um pedaço de ferro se levantou e pressionou uma lata de pó químico, espirrando nuvens escuras nos olhos de Hoothoot em pleno dia, nuvens que nunca foram desfeitas.
   Hoothoot ficou cego devido à reação química potente da armadilha, algo que certamente facilitaria a captura de qualquer criatura silvestre naquelas condições. A pequena coruja ficou agonizando por horas ali e nenhuma criatura ousava se aproximar dela, seu pranto só teve fim quando alguns pesquisadores a ouviram piar.   De volta ao centro veterinário, os médicos tentaram de tudo, mas não foram capazes de reverter o quadro. Já não havia mais esperança de que Hoothoot fosse capaz de viver na natureza novamente, mas não queriam sacrificá-lo depois de toda a luta para fazê-lo nascer.
   Era doloroso ver Hoothoot tropeçar ou esbarrar em paredes, mal conseguia voar por não ter noção de para onde ir, vivia basicamente empoleirado e descansando. Vendo a situação da coruja, um dos veterinários decidiu adotá-la para cuidar dela além do expediente de trabalho.
   Aquilo não era comum. Na verdade, não era aconselhável que se criasse laços de afeto com os que passassem pelo centro veterinário ou nascessem em cativeiro, pois eles seriam soltos na floresta ou acabariam não resistindo a alguma doença. Porém, a história de Hoothoot cativou o veterinário.


   Mesmo sabendo que a coruja tinha poucas chances de sobreviver, ele assumiu o risco. O médico instalou barras laterais nas paredes, pisos de textura diferenciada para indicar a posição das coisas, mas o que mais ajudou na reabilitação de Hoothoot foram os sinos.
   A vida era dura para Hoothoot, ou ele se adaptaria à sua cegueira ou seria obrigado a desistir de viver e não fazer nada. Era ainda mais cruel porque Hoothoot e Noctowl são famosos por sua incrível visão, sendo capazes de enxergar até mesmo quando a luz é praticamente nula. Era como se Hoothoot tivesse que aprender a ser algo que não estava escrito em seu destino, mudar seu próprio instinto.
   A vida da coruja era um cativeiro semiaberto. Em meio a tantos infortúnios, deu sorte de ser criado por alguém que o levava para passear pelas árvores, na tentativa de resgatar seu lado selvagem.
   O tempo passou e a coruja aprendeu a lidar com sua deficiência, adaptando-se ao mundo do seu próprio jeito. Ao invés de se manter em um pé só, acostumou-se a buscar o equilíbrio em ambos. Hoothoot cresceu e suas penas ficaram mais escuras, a mudança na plumagem anunciou a chegada de sua maturidade, como Noctowl.
   Noctowl enxergava com seus ouvidos. Ainda era vulnerável a movimentos súbitos ou situações onde os sons se confundiam, mas aquilo já era amplamente superior à sua condição de extrema dependência em seus primeiros anos de vida.   A coruja sentia o deslocamento do ar com suas penas para predizer a movimentação de pessoas e objetos. Porém, Noctowl queria mais. Ele havia encontrado forças para vencer seu próprio abismo e sua cegueira o fez incapaz de ver até mesmo suas limitações.
   Talvez pela aparente condição de eterna vulnerabilidade, até mesmo o veterinário parecia tratá-lo com mimos demais. Ele sequer se preocupava em prender Noctowl à noite para dormir, pois não queria mais nada para limitá-lo.
   O que ele não sabia é que Noctowl havia chegado a um ponto em que a influência do veterinário, para o bem ou para o mal, não o impediria de fazer o que ele queria. Às noites, Noctowl esperava seu tratador dormir e abria a janela mais próxima de seu ninho para fugir e voar sozinho.
   A floresta chamava por Noctowl. O silêncio da noite era perfeito para que a coruja ouvisse o vento. Em segredo, Noctowl decorava a posição das árvores e se escondia, à espreita para caçar. Suas primeiras tentativas foram frustradas, mas dificilmente o resultado seria outro caso enxergasse. Porém, quando ele finalmente foi capaz de capturar sua primeira presa, Noctowl sentiu uma satisfação tão grande que abandonou de fez o posto de vítima e assumiu a condição de protagonista de sua própria vida.


   É verdade também que ele se envolveu em combates com outros predadores, mas ele tinha um trunfo que ninguém mais tinha. Noctowl podia ser cego e ter dificuldade para atacar seus oponentes, mas desviava facilmente de todos eles por não se prender à necessidade de enxergá-los.   Não demorou muito para que a coruja percebesse que também era capaz de hipnotizar seus rivais. Afinal, não era necessário ver, bastava ter olhos hipnóticos para fazê-los dormir. Noctowl era cego, mas seus olhos eram grandes e vermelhos como os de qualquer outro em sua espécie.
   Tudo graças àquela janela, um verdadeiro portal entre as duas vidas de Noctowl, ambas legítimas. A coruja buscou sua própria independência, mas aquilo não durou para sempre. Certa vez, ao chegar em casa, Noctowl percebeu algo de estranho, sua janela estava fechada. Provavelmente, o médico havia acordado durante a madrugada e notado sua fuga.


   Enquanto Noctowl estava tentando abrir a janela e retornar ao seu ninho, ouviu alguém vindo em sua direção. Com uma lanterna na mão, o veterinário iluminou aquilo que via à sua frente, testemunhando Noctowl em pleno ar, batendo suas asas. Esqueceu-se de que ele era cego, apenas admirava o quão normal ele parecia ao bater suas asas...
   Mesmo que Noctowl nunca soubesse, o médico deixou escapar uma lágrima e um generoso sorriso, era um milagre operado graças à força de vontade da coruja.
   Temendo que o médico o impedisse de voar pela floresta ao saber de sua fuga. Noctowl se dirigiu até a floresta na intenção de que ele o seguisse e assim aconteceu. A coruja fugiu até o interior da floresta e se escondeu em uma árvore, preocupando o médico com a perda de seu rastro.



   Noctowl se lançou de uma árvore para a outra, exibindo sua capacidade de se esconder. A coruja ficou quieta por algum tempo e esperou que alguma presa saísse da toca naquele instante para provar sua habilidade de caça.   Assim que Noctowl começou a ouvir o som de um pequeno roedor, ele desceu da árvore e o capturou com suas patas, voando até veterinário e largando sua presa aos pés dele. Noctowl podia não saber, mas era como se ele e o médico se olhassem nos olhos um do outro.
   Não era necessário ter palavras, não era necessário ter olhos para enxergar. Tudo ali estava claro demais para ambos. O espírito indomável de Noctowl fez da restrição sua redenção, coube ao humano compreender e aceitar.
   E foi assim que os dois encontraram um caminho comum. As asas de Noctowl ganharam os céus. As estrelas não deixaram de existir por não serem vistas, elas continuaram ali a abençoar todos os que se põem abaixo delas. Talvez, Noctowl enxergasse melhor do que muita gente...


E assim termina a história de hoje...


- - - - - - -


   E assim ficamos! O que acharam da história do Noctowl? Eu sinceramente não sei de onde ele tira essa força de vontade, mas admiro muito. Espero que tenham gostado. ^^

   E finalmente, justiça para Johto! Já estava mais do que na hora de aparecer mais um amigo para o Xatu. Curiosamente, outro Tipo Voador, hehe. É, a gente pode considerar Espeon e Umbreon, mas só tínhamos mesmo o Xatu nas subséries principais. xD

   Bom, estou pensando em algo... diferente para a próxima publicação. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos! Ah, justamente por isso, semana que vem não vai ter Crônicas. =(

   Aliás, como vai ser nessa semana, parabéns Pokémon Blast News! Está chegando, #PBN5Anos! Fiquem ligados! Em breve, nos computadores com Internet mais próximos de você, hehe. Uma ótima semana para todos! =D





8 Comentários

Sinta-se à vontade para comentar!

  1. Demais, Gabs!!! Foi incrível, vou até mostrar pra minha mãe essa crônica ^^
    O Noctowl sempre foi um dos meus pokémons em Johto (ele e meu Crobat já me salvaram muito), então além da crônica ser com ele, a história em si foi incrível
    Pãrãbãinx Gabs, clap clap clap clap !!!!!
    Ahh sim, que tal um "Dose de Veneno" de Crobat??

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    1. LoKu-kun, meu chapa! =D
      Fico muito feliz que tenha gostado, depois me fala o que ela achou também! ^^

      Eu sempre gostei muito do Noctowl, acho que cheguei a comentar que ele era o meu Pokémon mais forte no Gold alguma vez. O Crobat é um milagre, ele consegue transformar um Zubat em algo legal! Milagre, né? xD

      Que saudades de GSC/HGSS... altas lembranças do mar entre Olivine e Cianwood e tal, hahaha.

      Não sei se é porque eu gosto dos Tipo Água, mas eu sempre gostei das rotas aquáticas e subaquáticas. Será que é por isso que minha região preferida é Hoenn??? Agora tudo faz sentido! Nunca havia pensado nisso dessa maneira. =O

      Muito obrigado por ter vindo aqui, cara! Até a próxima! ^^

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  2. Obriagdo por ter aceito o meu pedido de fazer uma crônica com noctowl e fazer este texto Incrível. Sério, eu adoraria ter esse maravilhoso talento seu em escrever histórias. Esse é de longe o quadro que eu mais gosto neste site!!!

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    1. Oi, João! Tudo bem? =D

      Sinceramente, seu comentário foi muito emocionante. Muito obrigado pelas suas palavras. Saber que as Crônicas são o seu quadro preferido é tão bom, mas tão bom, que é um combustível para eu continuar trazendo novas histórias para vocês! ^^

      Fico feliz que você tenha gostado da história do Noctowl, sua sugestão foi perfeita! Até a próxima! =D

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  3. Muito bom mesmo, parabéns, ótima leitura.

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    1. Olá, Don Perron! Seja bem-vindo às Crônicas! =)

      Fico feliz que tenha sido uma boa leitura. O objetivo é esse, garantir um momento agradável para uma boa leitura no meio da semana, uma boa hora de relaxamento! Muito obrigado pelo seu comentário! ^^

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  4. Mds, peguei um tempo pra ler essa crônica, e não me arrependo ^U^

    A história do Noctowl foi incrivel, ensinou q as vezes, nao precisamos de olhos pra ver oq está à nossa volta, e de um pouco de coragem pra se adaptar aos contra-tempos da vida ><

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    1. Fael, você por aqui! =D

      Muito feliz por você ter gostado da história do Noctowl, sério! Eu adoro ler seus comentários! ^^

      O Noctowl é um Wake-Up Slap na cara da sociedade, né? Uma lição de vida e de superação! =D

      Ser corajoso e se adaptar é meio caminho andado para resolver qualquer problema na vida! xD

      Até a próxima, Fael! ^^

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