Crônicas de Bolso: Almas em Fogo - Arcanine

Olá, galerinha!

Tudo bem por aí? Voltamos ao horário nobre na PBN para trazer a vocês a mais nova crônica de Almas em Fogo! É a sua vez, Arcanine! Agora, eu quero saber quem de vocês... já agiu por instinto? Uma força inexplicável que surge de dentro de cada um capaz de mudar tudo. Dizem que ninguém nasce sabendo, mas todos nascem com seus próprios instintos. ;)

Pois bem, hoje as Crônicas de Bolso estão flamejantes, apaixonadas e falando de forças que desafiam a rígida barreira entre o possível e o impossível. Avante, treinadores! Rumo à história! =)

***REPOST EM 17/02/2017 DEVIDO AO CONCURSO DE DESENHO***

O poder de um instinto primordial que arde como fogo!

Ah, é! Antes que eu me esqueça, a resposta do enigma da semana passada não fez o menor sentido para você? Então, as dicas foram "dentes" e "carne". Qual é o dente que perfura a carne? O canino! Hoje é dia de Ar-canino! Arcanine! Hááááááá... Ok, péssimo. Vamos à história de uma vez... u_u'

Almas em Fogos: Arcanine



   Há coisas das quais não se pode fugir por mais que se pretenda. São forças instintivas que despertam no interior de qualquer um, sem ter aparente explicação do porquê, forças capazes de tornar bravo até o maior dos acovardados. Porém, nada é tão forte e violento na natureza quanto o instinto maternal, indecifrável até para as que o detém, mas impossível de passar despercebido por qualquer um.
   As dores eram fortes e ainda guardava a sensação de que parecia haver algo dentro de si, mal havia se recuperado de seu parto e as condições insalubres daquela jaula só dificultavam as coisas. Arcanine era uma das estrelas de um espetáculo de circo tão fraudulento quanto o caráter de seu dono. Para ele, o picadeiro não era o palco que trazia felicidade aos habitantes locais, mesmo que fosse capaz de fazer brotar um sorriso inocente no rosto de qualquer criança. Tudo era uma fútil máscara que encobria o seu fascínio pelo dinheiro.
   A trupe estava em sua turnê europeia, mais precisamente em Sicília, na Itália. O circo era famoso por suas atrações exóticas, como o número de Arcanine, que contava com explosões de fogo e acrobacias com anéis incandescentes. O fogo sempre encantou as pessoas, fosse por atração ou por medo, e o dono do circo sabia disso...
   Arcanine nunca se acostumou com a frieza daquele homem, sempre o olhou com certa desconfiança e tudo o que via a fazia questionar se era aquele o lugar onde queria que seu pequeno Growlithe crescesse. Para onde quer que olhasse, apenas via artistas cujos sonhos foram roubados, meros empregados sem perspectiva de mudança, além do desleixo com o qual a infraestrutura do circo era tratada. Reformas custam dinheiro, o que implica em gastos, gastos os quais o dono do circo só estava disposto a ter para seu próprio usufruto.
   O filhote berrava pelo leite da mãe, já com as maçãs do rosto vermelhas de tanto forças o choro, Arcanine estava acuada e reativa a qualquer situação de risco que aquele ambiente inóspito poderia lhe oferecer, tanto que até seu leite parecia ralo, insuficiente para aplacar a sede de vida do pequeno Growlithe. A cadela de fogo andava com dificuldade pelos cantos da jaula, observando os compartimentos de comida e água, já tão velhos que havia rombos por toda a sua extensão devido à ferrugem. O cheiro forte de metal empesteava toda a jaula com seu odor nauseante.


    Arcanine tentava aplacar o pranto de seu filho, puxava-o para perto de si a fim de que o pequeno pudesse se alimentar, mas algo o incomodava. O desespero do filhote foi tanto que sua voz esganiçada chegou aos ouvidos dos que se diziam cuidadores de Arcanine. Dois empregados começaram a bater nas grades da jaula para intimidar o choro, ameaçando entrar. Foi quando Arcanine ouviu um dos cuidadores comentar:

   — Esse filhote grita demais, que saco! Ainda bem que não teremos que cuidar dele por muito tempo, o chefe já até fechou negócio com algum ricaço afim de um bichinho de estimação. Sorte nossa, não é?

   Arcanine entrou em um acesso de fúria sem precedentes, a ideia de ser separada de sua cria por si só já era aterradora demais, era como se um filme passasse em sua mente e ela vivenciasse as dores de algo que nem sequer aconteceu... ainda. A cadela começou a se debater dentro da jaula, dando pancadas contra as paredes ao ponto de fazer a estrutura inteira trepidar. Os cuidadores foram pegos de surpresa e intervieram, batendo ainda mais agressivamente nas grades até decidirem entrar na jaula. Ao ouvir o som da fechadura se abrindo, Arcanine se deitou sobre o filhote, mordendo-o pelo cangote e aguardou o momento certo. Todos estavam sob tensão naquela hora, Arcanine parecia esperar alguma represália e os cuidadores tinham medo do que aquela enorme criatura seria capaz de fazer. Ao ouvi-los caminhar pela chão feito de chapas de metal, a mãe deu um salto que a fez ir quase ao teto, surpreendendo os homens e os fazendo cair sentados. A cadela passou por cima deles, pisoteando seus corpos e carregando seu filho com a boca, correndo com sua extrema velocidade pela campina onde os vagões do circo estavam estacionados.
   O alarde foi tanto que absolutamente todos os membros do circo ficaram sabendo na mesma hora do ocorrido. Arcanine olhava para um lado e para o outro, buscando algum caminho livre e seguro, só queria fugir dali e salvar seu filho. Era como um tornado que passava, deixando rastros de destruição por onde fosse. Caixas derrubadas, roupas no varal rasgadas, pessoas empurradas, nada passava incólume à ira de uma mãe afoita.
   Arcanine correu para a área mais externa ao picadeiro e desceu por um declive no terreno, de onde pôde avistar uma floresta densa ao redor de uma montanha, um ótimo lugar para se esconder dos olhos gananciosos do dono do circo. A agitação foi tanta que até Growlithe parou de chorar, mantendo uma expressão séria e desconfortável. Arcanine correu pela grama, mas logo voltou a sentir a dor terrível que tinha ao caminhar, anestesiada brevemente apenas pelo momento de fúria. A cadela começou a andar cada vez mais devagar, seguindo pela margem de uma pequena estrada de terra batida que atravessava a floresta à frente.


    Arcanine e Growlithe se esconderam em um arbusto naquelas bandas e tentaram descansar um pouco. A mãe tentou amamentar o filhote novamente, agora com um pouco mais de tranquilidade, mas o leite ainda não era o bastante, apesar de já ser um alento para que Growlithe não morresse de fome.
   Certa hora, Arcanine ouviu o que parecia ser um motor, algo que se movia em sua direção. Ela tratou de se esconder em meio às folhagens e pôs a pata na boca do filhote para que fizesse silêncio. Era um caminhão de carga trafegando tarde da noite para levar suas encomendas, não parecia pertencer ao circo, muito pelo contrário, seguia pela estrada na direção oposta. Arcanine não pensou duas vezes e se jogou na carroceria do caminhão com Growlithe. Eles se esconderam embaixo do toldo que cobria a carga e a mãe tratou de fazer o filho dormir, já que não tinha como alimentá-lo. Por mais que quisesse, Arcanine não foi capaz de resistir ao cansaço e adormeceu logo após o filhote.
   Mesmo dormindo, Arcanine ainda mexia suas patas involuntariamente, certificando-se de que Growlithe estava ao seu alcance e puxando-o para perto de si. Não havia sido uma de suas melhores noites, mas a liberdade concedia um frescor à sua vida. Pouco antes do nascer do sol, Arcanine sentiu o pano sendo removido e ouviu as vozes rasgadas de dois caminhoneiros possivelmente idosos.
   O susto havia sido de ambas as partes, Arcanine possuía uma figura exuberante, com sua pelagem laranja, bege e listras negras, fora o porte majestoso e seu tamanho intimidador. Os caminhoneiros se assustaram e saíram de perto com medo da reação da criatura, a melhor atitude que poderiam tomar. Arcanine percebeu que não se tratava de uma cilada e desceu do caminhão com Growlithe, que havia acordado assustado e um tanto choroso, seguindo para o interior da floresta.
   Quando já não mais podiam ver os caminhoneiros, Arcanine largou Growlithe no chão para que ele pudesse ficar de pé e andar com ela, o filhote abriu o berreiro e começou a latir. A cada reclamação dele, Arcanine passava a pata em sua cabeça, fazendo-o encostar o focinho no solo. Contrariado, o filhote começou a fortalecer suas próprias pernas e andar com a mãe pela floresta.
   Arcanine sabia que esperar seu leite chegar não era uma opção e tratou de caçar frutas e ovos, chacoalhando árvores com sua força descomunal, precisava complementar a alimentação de seu filho para que tivesse forças.
   Os primeiros dias foram excepcionalmente difíceis, pois não conhecia a região e precisava estar sempre atenta a quaisquer predadores. A fome os acompanhou e Arcanine não suportava ouvir o choro de Growlithe, não pelo barulho, mas sim por sua causa. A cadela de fogo já estava ficando magra, dava todo o alimento que conseguia ao filho e comia apenas quando o mesmo já estava saciado... e eram poucas as vezes que conseguia isso.
   No entanto, Arcanine administrava bem seu tempo, ora educando o pequeno Growlithe ora colhendo recursos e alimentos para montar uma espécie de abrigo embaixo de uma rocha de musgo, com diversas árvores bloqueando o acesso. Ela não sabia de onde tirava forças para sobreviver e garantir conforto ao filho.
   Algumas semanas se passaram e o jovem Growlithe já arriscava suas primeiras aventuras, subindo em troncos, cavando buracos e até caçando pequenos roedores e pássaros. As primeiras chamas já saíam de sua boca. Arcanine estava particularmente feliz pela realização do filho, ignorava as mazelas pelas quais se obrigou a passar, dando-lhe a sensação de que tudo valeu a pena.
   Pouco tempo depois, Arcanine descobriu um pacato vilarejo na outra ponta da floresta, onde havia fartura de comida e água. Como já havia se recuperado em grande parte do nascimento de Growlithe, a mãe contava com sua agilidade para roubar comida no vilarejo sem ser notada. Ao retornar para seu esconderijo, era frequentemente desafiada pelo filho, que queria saber como ela conseguia tanta comida. Arcanine nunca permitiu que Growlithe a acompanhasse, não queria que ele a visse roubando comida, sabia que isso era errado e não queria isso para seu filho. Arcanine era mãe, preferia que todos os males caíssem sobre ela do que sobre seu filho, embora também não quisesse isso, pois precisava estar sempre em perfeitas condições para cuidar de sua prole.
   Um dia, enquanto circundava o vilarejo, Arcanine percebeu uma movimentação estranha, pessoas diferentes das que já estava acostumada a ver, mas... estranhamente familiares. Eles pareciam pregar cartazes ou algum tipo de anúncio nas paredes das casas e abordar os moradores, como se estivessem à procura de algo. Arcanine sentiu que havia algo errado e esperou até que as pessoas liberassem o local para tomar ciência do que havia no cartaz. A cadela se ergueu sobre as patas traseiras e se apoiou na parede para ganhar altura e poder ver o cartaz. Toda sorte de emoções conflitantes e inquietudes acometeram Arcanine, que revivia sua fuga traumática do circo. O medo era tanto que ela se desequilibrou e caiu sobre alguns barris, fazendo um estardalhaço tremendo. Certamente aquilo atrairia a atenção do povo do vilarejo e da trupe que estava à sua caça, Arcanine apressou-se para retornar à floresta como um raio, seu coração palpitava como os galopes de um cavalo de corrida. Apesar do fogo que ardia em seu interior, estava gelada e agindo novamente sem controle de suas ações, só pensava em encontrar Growlithe novamente e fugir.


    Não havia tempo para explicações, Arcanine disse a seu filho que precisavam partir, mas o pequeno era feliz ali, não queria ir embora. Growlithe discutiu com sua mãe, latia e a afrontava, sendo totalmente hostil. Arcanine recebia as acusações injustas do filho, mas não tinha escolha. Embora tentasse trazê-lo à razão, Growlithe estava irredutível e a única opção de sua mãe era pegá-lo pelo cangote e levá-lo contra sua vontade.
   O filhote rosnava para a mãe, balançava suas pequenas e afiadas garras, arranhando o rosto de Arcanine, que tentava fingir que não se incomodava com aquilo ao mesmo tempo em que buscava transpassar segurança ao filho, correndo para algum lugar distante e seguro o bastante.
   Arcanine passou alguns dias viajando pela floresta e caminhando em direção a uma grande montanha que abrigava um famoso vulcão. Os dias frios do início de inverno contribuíam para que sua jornada fosse ainda mais desafiadora. Growlithe já havia se cansado de tentar arranhar ou cuspir centelhas de fogo em sua mãe, apenas mordiscava suas patas de vez em quando, mas estava visivelmente arrasado por ter sido arrancado de seu lar por culpa de sua mãe. Sempre é culpa da mãe...
   O frio não veio apenas para empalidecer a paisagem, mas também para congelar a relação entre a mãe e sua cria. Arcanine voltou a sentir dificuldade para dar leite ao filho, embora ele já estivesse em tempo de desmame, e também já não encontrava frutas e outros alimentos com tanta frequência. Novamente, Arcanine e Growlithe enfrentaram a fome, agora acompanhada do frio.
   Mesmo com as atitudes do filhote, a mãe repetia a mesma conduta que tinha de quando ele era pequeno, só comia quando ele estava satisfeito, o problema é que Growlithe agora se negava a comer, ainda com raiva da mãe. A família foi sobrevivendo dia após dia em uma caverna nas montanhas geladas, sem o menor sinal de presença humana. O único lado bom daquele clima hostil era que ele não era hostil apenas para Arcanine e Growlithe.
   Certo dia, quando Arcanine voltou da caça, ela percebeu que Growlithe estava deitado, imóvel e bastante quente. O filhote tremia e parecia bastante debilitado. Era a primeira vez que seu filhote adoecia, mas Arcanine não se sentia no direito de fraquejar, cobriu seu filho com algumas folhas e lascas de madeira e tentou aquecê-lo com o calor de seu corpo. Muito embora tudo que fizesse parecia ser em vão, Arcanine não se dava por vencida, dava comida na boca do filho e lhe garantia aconchego, torcendo para que sua temperatura voltasse ao normal.


   Do lado de fora da caverna, o tempo se mostrava mais impiedoso do que de costume, uma forte nevasca assolava a região. Arcanine não estava em seus melhores dias, mas continuava a cuidar de Growlithe, mesmo sabendo que precisaria de frutas e ervas medicinais para tratar do filhote. Quando Growlithe finalmente dormiu e sua febre diminuiu, Arcanine se viu obrigada a encarar a nevasca, partindo em busca da cura para seu filho.   Foras horas na imensidão branca de neve à procura da planta certa. O vento gelado fazia tremer até sua mandíbula, já não sentia mais as patas e era particularmente difícil dobrar os membros, era como se suas articulações tivessem congelado. Arcanine chegou a rolar por uma parede íngreme da montanha, era fácil pisar em falso quando tudo em que se pisa é branco e não se tem a menor noção de profundidade. Suas patas já começavam a queimar de tanto escavar pela neve densa à procura das ervas. De tempos em tempos, Arcanine precisava sacudir seu corpo para se livrar do excesso de neve. A cada minuto que passava, crescia sua preocupação com o pequeno Growlithe, sozinho e doente na caverna. Arcanine farejava pelo chão, buscando o cheiro das plantas, já que não podia contar muito com seus olhos sem que a neve resvalasse neles.
   Porém, o esforço da mãe desesperada foi recompensado, Arcanine conseguiu desenterrar uma erva terapêutica parcialmente encoberta pela neve. Arcanine arrancou o que pôde de lá e rumou em direção ao abrigo novamente, na esperança de que o pequeno Growlithe estivesse ainda dormindo.
   No entanto, ao chegar à caverna, desespero. As folhas caíam de sua boca e dançavam sutilmente no ar até repousarem ao chão. Arcanine ficou paralisada ao ver que seu filho havia desaparecido, o abrigo estava revirado e havia marcas de pegadas humanas no chão, alguém havia levado seu filhote embora. Arcanine uivou desesperadamente e começou a andar pela caverna como um trem desgovernado, batendo em tudo e arranhando as paredes como se pudesse abrir um buraco nelas e lá encontrar seu amado Growlithe. Estava tudo dando errado, a saúde do pequeno estava abalada, Arcanine estava fraca de frio e fome e a nevasca não daria trégua tão cedo.
   A cadela de fogo começou a seguir os poucos rastros que tinha pelo chão, mas foi quando ela começou a se guiar pelo cheiro que a verdade veio à tona. Era o mesmo cheiro que os empregados do circo tinham, o cheiro forte de ferro de sua jaula. Finalmente pegaram Growlithe.
   Arcanine saiu em disparada pela montanha, vasculhando cada canto na esperança de encontrar rastros mais recentes da passagem dos homens do circo. Em um dado momento, as pegadas desapareceram e marcações lineares começaram a se formar na neve, possivelmente indicando que a partir dali passaram a se mover de carro. Arcanine sabia que precisava se apressar, pois logo Growlithe estaria nas mãos gananciosas do dono do circo e o fato de ela não ter a menor noção de há quanto tempo seu filhote fora levado apenas piorava ainda mais a situação. A mãe começou a notar que o caminho que percorria lhe era estranhamente familiar, porém não se lembrou rápido o suficiente até estar de volta ao vilarejo que Growlithe tanto gostava.


   As ruas estavam vazias e todo o verde do gramado se escondia sob o manto branco da neve, tudo havia mudado tanto em tão pouco tempo. Arcanine percorreu o povoado sem se preocupar com o fato de ser vista ou não, queria mais é ser encontrada para que pudesse ser trazida para junto de seu filhote. O cheiro dos trabalhadores do circo e de seu próprio filho estava cada vez mais forte, ela se aproximava mais e mais de Growlithe.
   Quando Arcanine avançou pelo centro do vilarejo, ela hesitou momentaneamente ao se deparar novamente com o picadeiro do circo. O palco estava armado e a trupe havia se movido para uma nova cidade e certamente ficariam ali por pouco tempo, já que o vilarejo não parecia ter muito dinheiro a dar para o caprichoso dono do circo. Era chegada a hora de fazê-los conhecer a ira de Arcanine.
   A cadela de fogo avançou pelo meio das pessoas que compravam ingresso na bilheteria, derrubando todos sem o menor esforço. Arcanine desferia coices em carroças de pipoca e sorvete, destroçando-as por completo, sua face exalava impiedade. Alguns policiais intervieram e os tratadores do circo logo reconheceram a fera fugida. Com cassetetes em punho e coleiras, eles ameaçavam Arcanine e lhe batiam de todos os lados, o que apenas a irritava ainda mais. Arcanine lançou chamas em todas as direções, formando um círculo de fogo no chão. As labaredas saíam de sua boca mesmo parada, a cadela foi incendiando cada pedaço do terreno e o frio do inverno se tornou um intenso calor, a neve havia derretido e o cheiro era de grama queimada. Arcanine pulou sobre os oficiais e seguiu correndo na direção do picadeiro.
   Do lado de fora, todos corriam desesperadamente para se salvarem, mas a música alta do espetáculo mascarava o caos que acontecia na área externa. Arcanine parecia dar voos rasantes enquanto corria. Ao chegar ao local do espetáculo, o público enalteceu a presença da cadela, como se tudo fizesse parte do show... e talvez o fizesse.
   Ao entrar em cena, Arcanine precisou desviar dos acrobatas e palhaços que faziam seu número, interagindo com os artistas como se realmente pertencesse ao número. O latido enfraquecido de Growlithe já podia ser ouvido por sua mãe, mesmo com a plateia indo ao delírio com sua suposta apresentação. Entre malabares, bolas gigantes e feixes de luz colorida, Arcanine chegou ao centro do palco e conseguiu descobrir onde o filhote estava, ao lado do dono do circo e narrador do espetáculo. Arcanine correu em direção a ele, mas o homem rapidamente se agarrou a uma corda e foi içado para o trapézio, no topo do picadeiro. O dono do circo anunciava o retorno de Arcanine como uma nova atração e mostrava o pequeno Growlithe como novo integrante do circo, embora o filhote estivesse praticamente desacordado.


   Arcanine tentou escalar a pilastra que sustentava o trapézio, mas ela era pesada demais e escorregava sempre que tentava subir, só conseguia arranhar aquela coluna. O público começou a rir do que parecia ser outro número de palhaçada. Arcanine já havia perdido a paciência e não media mais as consequências de seus atos há muito tempo. A cadela concentrou toda a sua energia para gerar uma imensa bola de fogo que emergia do fundo de sua garganta, liberando com ferocidade uma explosão de fogo em direção ao topo do picadeiro, queimando toda a lona que cobria o circo.
   As pessoas finalmente se deram conta do que havia de errado ali e os pedaços incandescentes de lona que se desprendiam do topo instauraram um verdadeiro pânico generalizado no circo. Entre gritos de horror e lágrimas, as pessoas se atropelavam pelos corredores estreitos para fugir. As chamas começaram a cortar as cordas do toldo e da sustentação do trapézio, obrigando o dono do circo a pegar Growlithe e se jogar no chão para se salvar, caindo sobre a cama elástica, que amorteceu sua queda. Em um rápido deslize, o homem ambicioso deixou o pequeno filhote escapar de seus braços, oportunidade esta que não foi desperdiçada pela mãe feroz, que resgatou sua cria em pleno ar e o jogou sobre suas costas.


   Vendo todo o seu trabalho e fonte de renda sendo destruído diante de seus olhos, o dono do circo foi tomado por uma incontrolável sede de vingança e sacou uma pistola que mantinha presa em seu cinto. Sua mão tremia, mas a mira era bem precisa, estava disposto a desgraçar a vida de Arcanine, tirando-lhe aquilo que ela mais amava, Growlithe. O disparo foi feito. O projétil atravessou o corpo laranja e de listras negras, causando enorme dor... em Arcanine. Percebendo que a vida do filhote estava em perigo, a cadela ergueu seu corpo para levar o tiro no lugar de Growlithe.

 
   O dono do circo havia enlouquecido com sua raiva, ficou ali parado no centro do palco, gargalhando de forma maníaca e sem se dar conta quando uma barra de ferro se desprendeu da estrutura em colapso do picadeiro, batendo diretamente em sua cabeça e o fazendo perder os sentidos. O homem caiu desacordado e o que restava da lona em chamas foi caindo sobre seu corpo, cobrindo-o como as cortinas cobrem o palco após o fim de uma peça de teatro. Uma peça de muito mal gosto.
   Arcanine sentia o sangue gotejar na lateral de seu corpo e foi mancando em direção à saída do vilarejo. Carros de bombeiros já haviam chegado para prestar socorro às vítimas e apagar o incêndio, mas aquilo não dizia respeito a ela mais. Enquanto fugia com Growlithe sobre suas costas, Arcanine sentiu seu filhote começar a se mexer, ainda cansado, mas definitivamente vivo. O filhote esticou suas patinhas sobre o lombo da mãe, se esparramando em suas costas e esfregando o rosto na pelagem macia e reconfortante de sua mãe, como em um abraço amoroso e sincero, a única coisa da qual Arcanine precisava para se manter firme em sua jornada e seguir em frente. Afinal, já estava acostumada a sentir dor, mas nenhuma dor era mais forte que o seu amor de mãe por seu filho.


E assim termina a história de hoje...


- - - - - - -


   Bom, pessoal... essa crônica foi puro sentimento. Espero que vocês tenham gostado, ela é particularmente especial pra mim, já que é a primeira história nova que eu trago a vocês desde que voltei. =)

   Ah, e esse papo todo de instinto não tem nada a ver com #TeamInstinct, já que eu claramente deveria ser #TeamMystic por causa do Articuno, água e gelo e tal... xD

   Não temos muitas opções restantes para fechar a segunda temporada, né? A próxima crônica é do tipo Terra e eu vou dar uma dica bem direta: só eu que acho estranho como a cabeça dele diminui a cada estágio, conforme ele evolui? Engraçado que ele perde os dentes (dentes de novo?!) ao evoluir. Curioso, não? xD

   Sendo assim, quem vai encerrar a segunda temporada das Crônicas de Bolso é o Tipo Gelo! E... eu confesso que não tenho nenhuma ideia assim muito animadora, mas tenho alguns candidatos. Alguém se habilita a me ajudar? ^^

   Para semana que vem, possivelmente teremos uma surpresa por essas bandas, vamos ver se eu vou estar inspirado o suficiente pra isso. Aliás, o que vocês estão achando dos Pokémon de Alola? Eu acho que a grande maioria está ficando um tiquinho... feia, lembrando que eu gosto de Pokémon nível Milotic de beleza, hahaha. Rockruff é um dos meus favoritos. Fala sério, quem resiste a um cachorrinho fofo com olhos azuis, né? =P

   Vejo vocês ali no bar, galera! Ops, digo... ali nos comentários! Hehe. Uma ótima semana para todos nós! =D



Créditos de imagem:
O brilho do fogo

6 Comentários

Sinta-se à vontade para comentar!

  1. AEEEE,finalmente as crônicas voltaram,eu já estava com saudades XD,crônica incrivel assim como as outras,e sobre a próxima crônica,Flygon?Até a próxima!

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    1. Fala, meu xará! Tudo bem? (Toda santa vez eu tenho que ir no Google pra saber se isso é com x ou ch kkkkkkk)

      Eu também já estava morrendo de saudades! Fico feliz que tenha gostado da crônica da Arcanine. =D

      Palpite certeiro! É o Flygon mesmo. Na mosca, literalmente! kkkkkkkkkk

      ...

      Que piada infame, meu Deus. u_u'

      Até a próxima! ;)

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  2. Olha eu nao sei como mas, eu tenho a sensaçao de que eu dei uma ideia muito parecida com essa historia em algum comentario de alguma cronica.
    Eu levemente me lembro de dar a ideia sobre um growlithe de circo que era maltratado e de uma tourada na espanha com um taurus.
    E Gabriel,pfv para de matar os pokemons que nos amamos, ta parecendo o cara do game of thrones,so falta mata o eevee...

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    1. Que bom te ver de novo, Caio! Como estão as coisas? =)

      É claro que essa ideia é a sua. Quando eu falo que aceito as sugestões e deixo tudo anotado num papel, é verdade! kkkkkkk

      Eu adorei a sugestão do cenário do circo com Arcanine, joguei o tema do instinto maternal e voila! Habemus cronicam. =P

      Eu nem preciso ler no papel, mas me lembro também da sugestão das touradas ardentes na Espanha. O único problema é que essa história talvez demore um pouco, pois o Tipo Normal tem muuuuuitos candidatos com histórias praticamente prontas e várias sugestões, aí pode demorar um pouco pra sair essa. =\

      Mas eu não matei nenhum Pokémon nessa história, juro! xD

      A Arcanine é forte, ela se recuperou depois e encontrou um lar na floresta, provavelmente, para viver com o filhote. Só quem morreu foi o dono do circo, doido varrido ele. =P

      Game of Thrones, eu ri. kkkkkkkkkkkkkk

      Pode deixar que eu nunca vou matar o Eevee, ele é bonitinho demais pra isso! Até o Jolteon que eu matei depois ressuscitou. xD

      Até mais! ^^

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  3. pois é, você acertou no fundo do meu coração. eu li essa crônica logo depois do meu cachorro morrer, seu destruidor de almas!!
    mas no mais, essa crônica ficou divina; detalhes muito colocados porém sem exageros. eu sinceramente achava que o cara que compraria o growlithe era na verdade o cara do caminhão, que revelou a localização dos cães de fogo pro dono do circo, e que aquela vila era na verdade, a antiga aldeia protegida pelo espírito de ninetales(se lembra dela? é claro que sim!!) por isso que a arcanina sempre conseguia pegar comida, já que provavelmente eles já notaram ela(afinal um cachorro vermelho pulsante gigante não passaria despercebido né?) e que deixaram-na pegar comida, como forma de agradecer a ninetales...
    conspirações rolam solta aqui! kkkkkk
    sayonara gabi kun!

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    1. Aaaai, poxa vida... Sinto muito pelo seu cachorro... =(

      Espero que essa crônica te traga boas lembranças dele pelo menos, mas que coincidência enorme! Dizem que quando isso acontece, o melhor mesmo é arrumar um outro cachorrinho para ajudar a superar a perda. Força! =/

      Deixando a parte triste de lado, eu fico contente por você ter gostado da crônica. Muito obrigado por comentar! ^^

      Cara, que viagemmmm!!! Altas conexões, reviravoltas, teorias, ahh! Plot twist: Arcanine e Ninetales estão conectados!!! Que loucura! kkkkkkkkk

      É claro que eu me lembro. Eu até pensei em interligar as duas, mas Ninetales apareceu no Japão e Arcanine na Itália... Opa! Isso me deu uma ideia DEMAIS! Por enquanto, é segredo. Vamos descobrir se isso vai pra frente só na semana que vem ou na outra. Valeu! =P

      É verdade, os moradores do vilarejo devem ser um pouquinho desatentos para não perceber uma Arcanine enorme na floresta. Ou ela se esconde muito bem! xD

      Conspirações, conspirações everywhere! kkkkkkk

      Sayonara, anônimo-san!

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